Por Fernando Brito
Estávamos mesmo precisando de você, presidente.
Enquanto você estava lá, naquela cela-sala (ou sala-cela,
sei lá), a coisa aqui piorou um bocado.
Ficamos mais pobres, ficamos mais brutos, ficamos mais
tristes, encolhemos nossas esperanças.
Em lugar de matar a fome, como se fez nos seus tempos,
simplificaram o programa: o negócio virou só matar, mesmo.
Não era melhorar as cabecinhas, era mirar nelas. Aquelas
“arminhas” com os dedos, da campanha, viraram de verdade, com o sujeito que
puseram na presidência dizendo que uma Glock na cintura era o caminho da paz.
As universidades, que você abriu como nunca antes na
história deste país, deixaram de ser progresso para virarem, dizem eles,
balbúrdia.
Aposentadoria voltou a ser coisa de vagabundo, como aquele
presidente boca-mole – até hoje recalcado de nunca ser amado como você – dizia.
Aquele petróleo, que a sua turma descobriu e que ia ser
nosso bilhete de loteria, tentaram vender, mas nem assim compraram, porque
nossa imagem está mais suja que praia do Nordeste.
Até este mal fizeram aos “paraíbas”, que é como eles chamam
os nordestinos.
O salário não subiu, como no seu tempo, nem vai subir, já
prometeram. O emprego empacou em 12,5 milhões de desempregados e a garotada
pedala, de caixa térmica nas costas, para ganhar cinco reais por encomenda. É o
que temos, já dizia o outro, não é.
Porque, sem isso, é a calçada, a cama de papelão, o “o
senhor me dá uma ajuda para comprar um pão?”. Está cheio de gente na rua, Lula,
você não faz ideia de quantos.
Dá tristeza andar na rua, presidente.
Tanta, que às vezes não o perdoo por nos ter feito acreditar
que isso ia acabar, me desculpe.
E nem falei como anda a nossa cara lá fora, humilhada por
toda a parte, como se aqui fosse um país de selvagens. Selvagens, não índios,
porque estes estão mais ameaçados que a ararinha-azul.
É garimpo ilegal, é agrotóxico liberado, é cana na Amazônia,
é tanta sandice que parece que querem nos tornar malditos no mundo.
Não convém, para quem recém se achega de volta neste Brasil
da rua, dar tanta má notícia, eu sei, mas nada é pior do que a gente ter virado
bruto, ao ponto de ter gente urrando por ditadura, tortura, por porrada e tiro.
Por isso, paro por aqui, porque esta é uma carta de
boas-vindas, num dia de festa.
Só não posso deixar de pedir uma coisa, injusta até para
quem tem 74 anos e, depois desta provação, merecia descansar.
Nos tire da prisão, Lula.
Estamos enfiados num buraco imundo e triste, onde não
podemos viver, onde não podemos sonhar, de onde não podemos ver nossos filhos e
netos saindo, onde não podemos querer o melhor para eles, que para nos não
queremos mais nada, que muito a vida já nos deu.
Precisamos de você, Lula, porque é você quem pode catalisar
a imensa força de um povo que não é mau, que não é insensível, que não é obtuso
como as elites que o dirigem para o caos.
Obrigado, Lula, por voltar para nós.


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