Por Nelson Rodrigues
Enviado por Gilberto Cruvinel
Amigos, falemos ainda do Brasil. O triunfo, na Suécia, em
58, foi para nós tão importante como a Primeira Missa. Começava o Brasil. Nós
nos inaugurávamos. Tudo o que ficava para trás era o pré-Brasil. E basta
comparar. Até 58, o brasileiro não ganhava nem cuspe à distância. O sujeito
dormia enrolado na derrota como num cobertor. Ninguém acreditava no Brasil, nem
o Brasil acreditava em si mesmo.
E, por isso, eu lhes digo que A Primeirra Missa, de
Portinari, é inexata. Aqueles índios de biquine, o umbigo à mostra, não deviam
estar na tela, ou por outra: — podiam estar, mas de calções, chuteiras e camisa
amarela. Lapso de Portinari não pôr o Feola, sem boné e contrito, com aqueles
pernões monumentais e aquela barriga tão plástica. O principal papel do escrete
de 58 foi o de profeta do grande Brasil.
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