domingo, 12 de outubro de 2014

DANIELA MERCURY E MALU VERÇOSA COMEMORAM UM ANO CASADAS, MAS AINDA HÁ PRECONCEITO

‘Não chamam de esposa, e sim de companheira’

Há exatamente um ano, Daniela Mercury e Malu Verçosa deram o “sim” que mudaria suas vidas. Em meio à coragem de externar seus sentimentos para o mundo, veio uma série de julgamentos, mas elas também passaram a serem vistas como ícones da luta pela liberdade. O encontro de almas, como elas costumam definir, vai além da casa que elas moram com as três filhas adotivas em Salvador. Malu passou a fazer parte da vida profissional da mulher , e as duas afirmam viver, desde então, uma eterna lua de mel.
Como vocês avaliam esse um ano de casadas?
MALU: Foi um ano de aprendizado e muitos desafios. A sensação é que valeu por dez anos de convivência. Começamos um namoro e depois tivemos um casamento com muita exposição na mídia e muitos julgamentos e comentários. Inventaram até separações! Nos fortalecemos e muito com tudo isso, mas não foi fácil. Nos tornamos ícones da luta pela liberdade, contra o preconceito e contra qualquer tipo de violência e desrespeito à comunidade LGBT. Foi um ano de muita alegria, mas de muita pressão também.

DANIELA: Foram muitos momentos divertidos e emocionantes. Viagens de férias para Paris, Dubrovinik, na Croácia, e muitas viagens pelo Brasil a trabalho. Também recebemos juntas alguns prêmios de direitos humanos pela nossa atitude. Nesse um ano, decidimos trabalhar juntas por que nos admiramos profissionalmente e também pela intensidade da paixão (risos). Não nos desgrudamos. Malu me protege e cuida muito de mim tanto profissional como pessoalmente, marcando consultas médicas e organizando as coisas da casa. Ela vai das coisas mais íntimas aos contratos e depois desse ano tão forte e intenso, nos amamos muito mais.
Vai ter uma nova lua de mel?
DANIELA: Nós aproveitamos as viagens a Portugal (por causa do “The voice kids”, em que Daniela é jurada) e já começamos a celebrar um ano de casadas. Afinal, foi lá que anunciamos o nosso amor ao mundo. E vamos fugir para o litoral norte da Bahia nesse fim de semana. A lua de mel é eterna.
MALU: A comemoração será só de nós duas. Queremos coisas simples, como um lindo pôr do sol e jantar num restaurante que amamos.
Vocês já tiveram alguma briga de casal?
MALU: Temos discussões como qualquer casal, afinal de contas, duas mulheres leoninas e líderes natas sempre têm uma forma diferente de resolver os mesmos problemas.
Qual o segredo para manter a chama do amor acesa e não cair na rotina?
MALU: O olhar sobre a outra. A admiração que temos uma pela outra e a sedução que é diária e constante. O nosso jeito de ser mantém a nossa vida bem movimentada e intensa.

Trabalhar ao lado da mulher é mais fácil?
MALU: É um desafio. E é extremamente gratificante, uma delícia ter a companhia uma da outra diariamente, testemunhar a vida da pessoa que você amada é maravilhoso.
O casamento de vocês serviu, como vocês mesmo disseram, para ajudar na luta pela liberdade. Hoje, um ano depois, como vocês enxergam a questão do preconceito?
DANIELA: O nosso amor inspirou as pessoas a lutar pelo que acreditam e isso tem sido bem claro para nós. O impacto do que fizemos é muito mais abrangente do que as questões do universo LGBT. Estamos orgulhosas pelo fato de inspirarmos as pessoas a falar a verdade, a viver seu amor com naturalidade. Nos sentimos muito queridas e recebemos muitos cumprimentos pela nossa atitude e muitos agradecimentos pela luta contra o preconceito e pela afirmação da força e da autonomia das mulheres. Um reforço bem importante à luta feminista também.
Vocês chegaram a sentir esse preconceito na pele?
DANIELA: É cansativo, pois é preciso lembrar ao mundo, o tempo todo, que somos casadas para que tratem a gente como tratam um casal hétero. A sociedade não tem hábito de considerar a união de mulheres um casamento. Então, nos restaurantes, nos hotéis e em praticamente todas as situações cotidianas, é preciso sutilmente educar as pessoas. E ainda tem os termos preconceituosos, não chamam de esposa, mas de companheira. Falam de “assumir” e esclarecemos dizendo que não há o que assumir e que, no nosso caso, apenas comunicamos a relação e depois casamos no civil como qualquer casal. Mas não precisamos de aprovação, precisamos de respeito!

Em tempos de eleição, o que vocês acharam da vitória do Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano, dois ferrenhos críticos à causa LGBT?
DANIELA: Quanto mais a sociedade avança, mais barulho faz uma minoria conservadora, principalmente num país em que crenças religiosas e direitos humanos se confundem. A educação é o grande desafio.
As filhas de vocês já entendem que elas têm duas mães e que vocês são um casal?
DANIELA: Claro que elas sabem que têm duas mães e que somos um casal. Elas nos admiram e crescem com um exemplo de respeito, cumplicidade e, principalmente, amor, entre as mães. A questão não é “tratada”em casa porque não é uma questão. Elas não têm o preconceito que está dentro da nossa sociedade. E quando vem alguma questão de fora para dentro de casa, em muitos casos, elas mesmas encontram as soluções. Quando isso não acontece, a gente conversa e mostra o caminho de resolução e do amor.

Pensam em adotar mais uma criança ou até mesmo engravidar?
MALU: O futuro a Deus pertence... Amamos crianças!
Como é o assédio das mulheres ao casal ?
DANIELA: O assédio é o mesmo dos homens. Ignoramos o assédio e seguimos adiante. Não nos mobiliza. Somos igualmente ciumentas, mas nada exagerado.

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