segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O HAITI SOMOS NÓS

Foto Rita Tavares
O Haiti somos nós
Por Valmir Assunção*

A construção da paz começa no coração das pessoas, é uma conquista coletiva. Esta foi uma das últimas mensagens da coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns Neumann, proferidas no Haiti, no dia 12 de janeiro deste ano, antes do desastroso terremoto que matou cerca de 100 mil civis, inclusive a missionária. Ela deixará muitas saudades e um vazio enorme na luta por um mundo melhor para as crianças e adolescentes de todo o planeta que estão em situação vulnerável.

Retomando o sentido das palavras de Arns e da história da diáspora negra, que faz parte da origem do Haiti e do Brasil, principalmente da origem da Bahia, afirmo que, nós, baianos, temos de abraçar a luta do povo haitiano para minimizar as consequências desse desastre, como se fosse a nossa própria luta.

Estive no Haiti em 2005, numa missão internacional, na qual também participaram a atriz Lucélia Santos e diversos parlamentares e lideranças da América do Sul. Por mais de 15 dias, participei de encontros com lideranças da sociedade civil e do governo daquele país. Nesse tempo, pude ver de perto a pobreza e a miséria em que as pessoas vivem lá. O Haiti foi um país que viveu muitos anos na ditadura, apesar de ter sido o primeiro a se tornar independente entre todos os outros da América Latina. Guarda, no entanto, de forma muito mais devastadora que o Brasil, as consequências do colonialismo e do imperialismo, como a condição de país mais pobre do continente.

Mais do que nunca, com os novos ventos que sopram na América Latina, é que nós, latino-americanos, temos que nos ajudar, temos que erguer os que estão mais abatidos. Por isso, nesse momento de tragédia no Haiti, é importante que cada um de nós, baianos, se torne solidário com esse povo.

E nenhum segmento, senão o movimento negro do nosso Estado, seria mais importante para liderar uma campanha de solidariedade ao povo haitiano. O que o governo Lula está fazendo são iniciativas importantes, mas nós, enquanto baianos, identificados com aquele povo, devemos também fazer nossa parte. Todas as religiões, todos os meios de comunicação, todas as forças políticas podem transformar isso numa mobilização do povo baiano.

Seria profundamente legítimo, por exemplo, que o carnaval de Salvador fosse o “Carnaval de Solidariedade ao Povo do Haiti”. Que os meios de comunicação incorporem essa campanha como uma tarefa importante da disseminação da solidariedade através da informação. Isso iria contribuir para a arrecadação de recursos e alimentação não perecível: um gesto que pode ser multiplicado em todo o Brasil. Não basta ficarmos chocados com a tragédia, devemos agir, ajudar. Porque, como frutos da diáspora negra, o povo baiano tem uma co-responsabilidade social para com o povo haitiano.

* Valmir Assunção é secretário de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza

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