sábado, 30 de novembro de 2013

O PODER DA MANIPULAÇÃO

 (*) Osvaldo Ventura
     Pela inexistência atual de comunista devorador de criancinhas, a elite brasileira, eterna adversária irracional e raivosa de governos com viés popular, trocou de estratégia. No passado, aterrorizava as massas com o fantasma do comunismo ateu, que viria provocar a dissolução da família, a extinção da propriedade privada e causar a divisão de tudo, para estabelecer o caos. Projetava-se, então, no âmbito das camadas desprovidas de informação, no meio dos inocentes- úteis e analfabetos políticos, que o apocalipse estava sendo trazido no ventre do comunismo destruidor.
    Hoje, com um governo trabalhista no Brasil e sem o “fantasma” do comunismo, era necessário substituir os velhos, desgastados e anacrônicos argumentos pretéritos. Então, surgiram novas alegorias de um antigo enredo, sem o ranço do anticomunismo, porém com maior capacidade de difusão do reacionarismo, manipulação dos crédulos, dos incautos e ingênuos, distorção dos fatos, disseminação das aleivosias e transformação das mentiras absurdas em verdades absolutas. Tudo isso com a participação danosa e ostensiva do poder incontrastável das corporações midiáticas, de propriedade das classes dominantes nativas, quiçá, as mais conservadoras e coléricas ao Sul do Equador. Ressalte-se que é histórica a rejeição, por parte das classes dominantes brasileiras, de um presidente da república que venha demonstrar a mais leve vocação trabalhista.
    Neste momento, coerente com seu passado de querer assumir o poder utilizando-se de  métodos heterodoxos, a burguesia nacional assesta suas baterias contra as políticas públicas de inclusão social, praticadas por um governo de tendência popular, que dentre outras proposições, destacam-se aquelas que pretendem diminuir as injustiças e desigualdades sociais reinantes no seio das comunidades mais carentes.
    Com a atual mudança das condições objetivas, a burguesia nacional entendeu que havia necessidade de substituir o desacreditado discurso de ontem por outro, no qual o caráter ideológico ficasse menos explícito. Assim, o pavor difundido por uma hipotética implantação do comunismo no Brasil, transformou-se em um moralismo hipócrita, numa recusa preconceituosa em admitir a “ousadia ascensional dessa gente”, como também em infundado receio da perda de privilégios históricos que não se coadunam com princípios da cidadania. O que, diga-se de passagem, por mais que pretendessem disfarçar, só veio reafirmar o eterno conflito de classes, trazendo para o centro da arena o inevitável embate ideológico.
    Na verdade, a insensibilidade oceânica que domina (com as exceções da regra) quem detém os meios de produção no Brasil deve ser fruto do patrimonialismo atávico da Casa Grande, na qual a compaixão e o olhar solidário jamais tiveram abrigo. Desse modo, explica-se porque uma pessoa que desfruta de situação confortável do ponto de vista econômico-financeiro, não tenha o mínimo sentimento de solidariedade para com aqueles que vivem na miséria, à margem do processo civilizatório.
(*) Escritor    
     Membro da Academia Feirense de Letras

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