A MICARETA DE 1950
Quando
começou o mês de abril do distante 1950, todas as atenções de Feira de Santana
já estavam voltadas para a micareta, que naquele ano foi realizada nos dias 15,
16, 17 e 18. O “sonoplasta” da Rádio Sociedade, a única da cidade, só colocava
no ar musicas momescas, o mesmo acontecendo nos serviços de som fixos
existentes nos subúrbios, principalmente o de “seo” Armando, nas Baraúnas.
RICOS E POBRES
Na sua edição
nº
Além
da animação de rua, três clubes brindavam os filões feirenses e de cidades
vizinhas com grandes bailes, conforme atesta o noticiário de semanário: “As
diretorias da Filarmônica “25 de Março”, Vitória e Feira Tênis Clube vão
premiar a melhor fantasia apresentada nos seus grandes bailes, quatro em cada
clube” e que “os foliões vão precisar de muita vitamina para agüentar a farra”.
A
Rua Direita, hoje ruas Conselheiro Franco e Tertuliano Carneiro, era o sitio da
festa, ou o “quartel general” como se denominava na época. Tudo que acontecia
na Rua Direita, desde a Praça da Matriz à Praça Fróes Motta, era narrado pelos
locutores da cidade, entre eles o saudoso Dudinha, que empunhando o microfone
envolto num lenço – segundo ele para melhorar o som, dizia estufando o peito:
“SPR Constelação, a Voz do Sertão. Falando diretamente na marquise da Loja
Pires, para onde abrange toda a sua rede sonora...”
RAINHA E PRINCESAS
Bem
diferente dos dias atuais, a escolha de rainha e princesas era feita
democraticamente pelo voto. Em
5.820 votos, ficando como
princesas as senhorinhas Marlene Costa Oliveira e Regina Bernardes Santos.
Depois de coroadas, as majestades comandavam o préstito micaretesco que saia da
Rua Direita e em seguida sob confetes e serpentinas visitavam os clubes da
cidade. Abro um parêntese para saudar a princesa Regina, viúva de Milton Costa,
hoje a consagrada artista plástica Regina Costa, minha madrinha de casamento em
1970.
Não
existia aparato policial, bastava o tradicional aviso da comissão: “Vale brincar,
vale cantar, vale sambar, só não vale brigar”. O folião atendia acompanhando e
cantando com as três grandes batucadas da cidade: Embaixada Feirense, Malandros
do Morre e Sambistas do Lar. Ao final da micareta, além da melhor batucada a
comissão também premiava o melhor cordão, melhor fantasia, melhor máscara.
Em
todas as micaretas nunca faltaram atrações da capital (ou da Bahia como se
dizia antigamente) contratadas pelas comissões organizadoras. Na micareta de
Criado
por Mestre Narciso da Natividade e Manuel Fausto, o “Manuel de Emilia”, logo
após o advento da micareta, o cordão “As Melindrosas” é parte da história da
folia de momo nesta cidade. O decano semanário feirense assim anuncia a presença
do tradicional cordão feirense na festa de 1950: “Abafando como sempre abafou
em outras micaretas, surgirá na Rua Direita, em requebrados gostosos, cantando
o interessante samba de Evaldo Rui e Fernando Lobo”.
Concluindo
o noticiário sobre a festa, todo publicado na primeira página, a “Folha do
Norte” transcreve a letra dos poetas, com a qual o famoso cordão “As
Melindrosas” invadiria a Rua Direita: “Tava jogando sinuca/ Uma nêga maluca/Me
apareceu./ Tava com um filho no colo/Dizendo pro povo que o filho era meu/Não
sinhô!/Tome que o filho é seu!/ Não sinhô!/Guarda o que Deus lhe deu”.
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