“Requiem para uma Feira”
Franclin Maxado
“Somente a natureza
amanheceu chorando ontem. Na praça
principal, a azáfama da feira- livre se repetia como em toda segunda-feira. Ninguém diria, se
não soubesse que aquela seria a última feira ali, depois de uns duzentos anos.
E ali a feira se despedia sem
solenidade. Como um general que ganhou a guerra e se aposenta sem querer
receber nenhum louro. Como um filósofo que sabe serem essas coisas efêmeras. O
que vale é o registro histórico.
O tempo chorou, mas sabemos que
amanhã é um novo dia. E o sol nascerá radioso, brilhante. Logo, a feira não se
acabou. Apenas, muda de local. Um local que ainda está meio escondido pois lhe
faltam as vias de acesso projetadas e a visão psicológica de quem chega na praça
e não a vê. Como no velho costume.
Somente um bequinho por entre o
Umuarama Hotel (quer dizer reunião de amigos em tupi-guarani) e a Loja Pires,
justamente à Visão.
O último dia da feira passou em
brancas nuvens, como nos lembrou o ex-radialista Lucilio Bastos (hoje se
revelando um cronista das coisas e gentes feirenses). E o comerciante Carlos
Marques que, talvez, se estivesse nos
seus tempos carnavalescos de rapaz, faria uma marcha sobre o acontecimento.
Aliás, retruquei, “brancas nuvens”, não, pois as nuvens estavam escuras de
chuva.
A hora não é para saudosismo
nesta Feira que se industrializa, que se asfalta em ruas e estradas, que se
alteia, arranhando o céu. Mas a feira ali lhe dava qualquer coisa de original e
único. De coisa bem personalística como seu nome: Feira de Santana!
Nome que começa com o seu começo.
Em torno da capelinha de Sant’Anna, da fazenda Olhos D’Agua, dos velhinhos
portugueses Domingos e Ana Brandão. Alí na estrada de São José das Itapororocas
para Cachoeira.
Feirinha dos tropeiros, dos
boiadeiros, dos vaqueiros, dos mascates, etc. História oficial que hoje também
está sujeita às mudanças pelos estudos do monsenhor Renato Galvão.
Não vamos mais ficar a lamentar
ou a rememorar fatos, uma vez que nós feirenses somos gente portuguesas
acostumadas a sair pelo mundo para criar mundos. Gente afeita a olhar para o
futuro, mas chorando nos fados tristes.
Foram esses novos feirenses
José Falcão da Silva e Lindalvo Farias
que tiveram a coragem de sacudir a poeira dos séculos. Com base num plano
integrado do governo João Durval. Entrará Colbert Martins com a incumbência de consolidá-la.
Sabemos que ela será recalcitrante. Teimará em ficar pelas adjacências como
mulher apaixonada que não quer deixar seu homem.
Mas é vida. Viver é estar sempre
mudando, se renovando. Quando se perde essa capacidade é a velhice e a morte.
Tenho visões futurísticas para essa nova feira. Já a cantei em álbum e folheto
de Literatura de Cordel. Porém não pude deixar de ver o dia chorar ontem. E,
olhando para os feirantes e suas coloridas mercadorias, também chorei”
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