O TEATRO EM FEIRA DE SANTANA.
Por Luciano Ribeiro
No início da década de 60, um grupo de estudantes
de Feira de Santana tinha uma intensa atividade na política estudantil, através
dos grêmios e entidades próprias, alguns até em atividades político-partidárias.
Com o golpe de 64, esses estudantes viram-se
tolhidos de qualquer ação que significasse a continuidade do que faziam antes
de 64. Os grêmios e entidades estudantis foram extintos, partidos políticos da
mesma forma, prisões diversas, tudo isto deixando um vazio naqueles que tinham
atuação mais efetiva antes de 1964. Diríamos que uma grande frustação abateu-se
sobre esses jovens.
Buscando uma nova forma de atuação, boa parte
desses estudantes optou por um trabalho artístico, de certa forma mais aceito
pelas autoridades de então.
Sob a liderança desses estudantes, reativa-se a
Sociedade Cultural e Artística de Feira de Santana – SCAFS, inicialmente
voltada para a arte teatral, embora a mesma permitisse outras atividades
artísticas, como, exposição de pinturas, recitais, etc.
Estamos na metade da década de 60, notadamente a
partir de 1966, onde o teatro feirense, amador, tem grande penetração e
respeitabilidade na comunidade feirense, sobretudo com o trabalho dos jovens
estudantes de que falamos. A esta altura, não apenas estudantes egressos do movimento
estudantil, mas, diversas outras pessoas, sobretudo profissionais liberais,
também engrossavam as fileiras dos que em Feira faziam arte.
Embora sendo amador, o teatro produzido pela SCAFS
era de boa qualidade. Para dirigir nossas peças teatrais, trazíamos sempre
diretores de Salvador, muitos deles da Escola de Teatro da Universidade Federal
da Bahia. Diversos espetáculos nossos foram apresentados não só em Feira de
Santana, como em Salvador e municípios do Estado da Bahia.
Algumas peças se destacaram, como, “O Boi e o Burro
no Caminho de Belém” (infantil), “Pluft, o Fantasminha” (infantil), “Deus lhe
Pague”, “Toda Donzela Tem Um Pai Que é Uma Fera”. “Só o Faraó Tem Alma”,
“Teatro de Cordel”, etc. movimentando a cultura feirense. Além dos mais o grupo
de pessoas responsável por essas e outras produções artísticas gozava de
credibilidade junto à sociedade feirense.
No governo do prefeito João Durval Carneiro, surge
o Teatro Margarida Ribeiro. Até então, as peças eram apresentadas em cinemas
locais, pois não se tinha uma sala específica para teatro. A necessidade do Teatro
Margarida Ribeiro surge a partir daí, com o Prefeito atendendo a solicitação
das pessoas que faziam teatro.
O nome Margarida Ribeiro foi uma homenagem dos que
faziam cultura, do próprio Governo Municipal a uma atriz feirense, falecida
tragicamente em acidente. Quando de sua morte, Margarida Ribeiro estudava
Direção Teatral na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.
Com o teatro amador, não se ganhava nada. A renda
de bilhetes e patrocínios, muitas vezes, não dava para cobrir os custos da
produção dos espetáculos. Os que compunham
o grupo de atores e demais componentes do teatro feirense tiveram que buscar
formas de sobrevivência. Alguns deram continuidade a esse trabalho, de forma
profissional em Salvador, e outros partiram para outras atividades, as mais
diversas possíveis. Em consequência encerra-se o ciclo do teatro produzido pela
SCAFS em Feira de Santana, isto, mais ou
menos da década de 70.
Apesar das dificuldades e da precariedade
existentes naquela época, pode-se dizer que Feira de Santana, a partir do grupo
de jovens salientado no início deste depoimento, viveu um período muito
importante na história de sua cultura. Não só o teatro, como também cinema
(Associação dos Críticos Cinematográficos – AFCC), Academia de Letras dos
Estudantes de Feira de Santana – (ALEFS) e outros davam um tom de grande
movimentação cultural.
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