segunda-feira, 23 de outubro de 2023

FEIRA ONTEM

                                                  SEBASTIÃO NERY 

FOLCLORE POLITICO I

Os dez mandamentos do político mineiro:

01 — Mineiro só é solidário no câncer.

02 — O importante não é o fato, é a versão.

03 — Aos inimigos, quando estão no poder, não se pede nada. Nem demissão.

04 — Para os amigos tudo. Para os inimigos, a lei.

05 — Respeitar, sobretudo, o padre que consegue votos; o juiz, que proclama o eleito; e o soldado, que garante a posse.

06 — Nas horas difíceis, cabe ao líder comandar: "Preparemo-nos e vão".

07 — Voto comprado não é atraso, é progresso. Se o voto é comprado é porque tem valor.

08 — Em briga de político, geralmente perdem os dois.

09 — Mais vale quem o governo ajuda do que quem cedo madruga.

10 — É conversando que a gente se entende.

— José Cavalcanti, o filósofo de Patos (Paraíba):

· O homem de responsabilidade política não mente: inventa a verdade.

· Político é o indivíduo que pensa uma coisa, diz outra e faz o contrário.

· O político, quando se elege, assume dois compromissos: um com ele mesmo e outro com o povo. O primeiro ele cumpre.

· Dinheiro é como azeite: por onde passa, amolece.

· Político sem mandato é como chocalho sem badalo: balança mas não toca.

· O bem público não quer bem a ninguém, a não ser a si mesmo.

· João Agripino é como mandacaru: não dá sombra nem encosto.

· Político pobre é como mamoeiro: quando dá muito, dá duas safras.

· Se queres ser bem sucedido na política, cultiva essas duas grandes virtudes: a sinceridade e a sagacidade. Sinceridade é manter a palavra empenhada, custe o que custar. Sagacidade é nunca empenhar a palavra, custe o que custar.

· Oposição agora é como grama de jardim: tem direito de viver, mas sem direito de crescer. (Obs.: dito durante o regime militar de 1964).

· Oposição é como pedra de amolar: afia mas não corta.

· Governo técnico é como maestro: rege a orquestra de costas para o público.

 

— Domingos, filósofo de Jaguaquara (Bahia):

· Oposição e sapato branco só é bonito nos outros.

· Sabedoria, quando é demais, vira bicho e come o dono.

· Candidato é como puta: se não ficar na janela, marinheiro não vê.

— Ulisses Guimarães, o filósofo da oposição:(traçando a estratégia da escalada do MDB em 1974, 76 e 78):

. No alto do morro estavam dois touros. O touro velho e o touro novo. Viram lá embaixo o pasto cheio de vacas. O touro novo ficou aflito:

— Vamos descer depressa e pegar umas dez.

O touro velho balançou a cabeça:

— Nada disso. Vamos descer devagar e pegar todas.

— Deus manda lutar, não manda vencer.

. 1974 não foi uma tempestade. Foi uma tromba d'água.

. O destino do MDB não é a oposição. O destino do MDB é o poder.

. O Brasil precisa é de um projeto político que comece por batizar a criança: se é uma democracia, então vamos ter uma democracia!

. Navegar é preciso. Viver não é preciso.

Disse Millôr Fernandes: "...No decorrer de sua experiência de mais de duas décadas como repórter especializado, Sebastião Nery pode colher, nos anfiteatros mais engraçados do Brasil, o Senado e a Câmara, muitos de seus momentos mais hilariantes". E prossegue: "Por isso, é um livro extremamente atual, esse Folclore Político, com o qual o próprio Nery aprendeu que, muitas vezes, parar de enfrentar o tigre frente a frente e puxar-lhe o rabo inesperadamente é mais útil à causa e muito mais eficiente. Já foi muito dito mas nunca é demais repetir: castigat ridendo mores, ou seja, rindo é que se castiga os mouros".

Textos extraídos dos livros "Folclore Político nºs. 2 e 3", seleção de Sebastião Nery, jornalista, escritor e político, publicados pela Editora Record - Rio de Janeiro, em 1976 e 1978, páginas diversas.

 

 

 

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