Por Carlos Chagas
Com todo o respeito, mas o ex-presidente Fernando Henrique perdeu excelente oportunidade de ficar calado, quando compareceu a uma solenidade na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, esta semana. Porque declarou que as práticas políticas brasileiras são erradas e deformadas, acrescentando ter havido regressão para a República Velha, durante o governo Lula.
Na República Velha, governo não perdia eleição. Trocava-se o presidente de plantão através de acordos celebrados na cúpula das elites, geralmente paulistas e mineiras.
Ora, quem deformou mais as instituições do que o próprio FHC ao mudar as regras do jogo depois dele começado? Quem arrancou do Congresso a emenda da reeleição, inclusive apelando para métodos fisiológicos, beneficiando-se quando o lógico seria aprovar a mudança para o próximo período presidencial, não o dele? Mas fez mais: a reforma constitucional por ele patrocinada permitiu-lhe disputar o segundo mandato no exercício do primeiro, sem desincompatibilização. Quer dizer, com a caneta e o Diário Oficial na mão.
Mais do que uma prática errada, aquela veio contaminada de má-fé. De um casuísmo digno do período militar quando, para não perder o poder, seus detentores alteravam as instituições e as leis por atos de força. Ou terá sido democrático o estabelecimento da reeleição?
Não pode ser negada a conquista de metas sensíveis durante os oito anos de Fernando Henrique, mas essa mancha ele carregará em sua biografia. Erros e deformações, ele os cometeu.
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