Jornalista
Josias de Souza
Nos bastidores do poer
Como distinguir um oposicionista de um governista, no Brasil? No passado longínquo, era fácil. O governo vestia farda.
No passado recente, também era simples. A oposição usava barba. Só mais recentemente a barba foi aparada e perdeu o significado ideológico.
Pelas companhias? Impossível. O líder do governo –qualquer governo— é o Romero Jucá. A governabilidade está sempre nas mãos do PMDB.
Pelo discurso? Não dá. Todo mundo é a favor da felicidade, dos investimentos sociais e da estabilidade econômica. Todos contra a corrupção, o câncer e o chope quente.
Também não adianta recorrer a testes pseudocientíficos. Experimente atirar um governista e um oposicionista num tanque com água.
A massa de ambos vai se deslocar no líquido de modo semelhante no líquido. Os dois vão espernear do mesmo jeito.
Graças a essa indistinção, soaram estranhas as críticas feitas pela oposição, nesta quinta (22), à entrevista que Lula deu ao repórter Kennedy Alencar.
A certa altura da conversa, instado a comentar o laxismo ético da coalizão política que o cerca, Lula disse:
"Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, disse que Lula conduz “um governo pragmático que, para garantir sua sustentação, faz aliança até com o pior traidor".
Presidente do PPS, Roberto Freire (PE) ecoou Maia:
"A comparação com Jesus Cristo e Judas para quem é católico como ele e cristão, como boa parte da população brasileira, é uma violência...”
Violência “...para justificar todas as bandalheiras e traições que permitiu que se fizesse em seu governo”.
Vice-líder do PSDB, Álvaro Dias também subiu no caixote: "Há uma relação de promiscuidade entre o presidente e os partidos que o apóiam”.
Beleza. O diabo é que FHC, assim como Lula, também se entregara, com despudor inaudito, às relações partidárias hetedodoxas.
Nascido de uma dissidência supostamente ética, o PSDB contribuiu decisivamente para o esfarelamento moral que toma o país de assalto.
Nem nos seus piores pesadelos, os brasileiros esclarecidos supunham que FHC e suas alianças exóticas produziriam cenas como aquelas de abril de 2000.
Uma imagem na qual ACM e Jader aparecem se xingando de ladrão no plenário do Senado. Àquela altura, os dois eram aliados de cinco anos do tucanato.
Do mesmo modo, a esquerda dita socialista jamais imaginara que Lula, seu melhor representante, fosse presidir uma aliança como a atual.
Uma coligação que dá prontuário novo a Jader. E que santifica de Renan (ex-ministro de FHC), a Sarney, passando por Collor.
De duas uma: ou FHC e Lula não estiveram à altura das suas oportunidades ou os tempos não estiveram à altura dos dois.
Nesse ambiente, caberia ao eleitor distinguir o Cristo do Judas. Mas 20 anos de democracia não conseguiram produzir no Brasil o eleitorado consciente.
Por ora, o brasileiro frequenta o enredo da peça no papel de bobo necessário à preservação da pantomima.
Escrito por Josias de Souza às 18h49
No passado recente, também era simples. A oposição usava barba. Só mais recentemente a barba foi aparada e perdeu o significado ideológico.
Pelas companhias? Impossível. O líder do governo –qualquer governo— é o Romero Jucá. A governabilidade está sempre nas mãos do PMDB.
Pelo discurso? Não dá. Todo mundo é a favor da felicidade, dos investimentos sociais e da estabilidade econômica. Todos contra a corrupção, o câncer e o chope quente.
Também não adianta recorrer a testes pseudocientíficos. Experimente atirar um governista e um oposicionista num tanque com água.
A massa de ambos vai se deslocar no líquido de modo semelhante no líquido. Os dois vão espernear do mesmo jeito.
Graças a essa indistinção, soaram estranhas as críticas feitas pela oposição, nesta quinta (22), à entrevista que Lula deu ao repórter Kennedy Alencar.
A certa altura da conversa, instado a comentar o laxismo ético da coalizão política que o cerca, Lula disse:
"Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, disse que Lula conduz “um governo pragmático que, para garantir sua sustentação, faz aliança até com o pior traidor".
Presidente do PPS, Roberto Freire (PE) ecoou Maia:
"A comparação com Jesus Cristo e Judas para quem é católico como ele e cristão, como boa parte da população brasileira, é uma violência...”
Violência “...para justificar todas as bandalheiras e traições que permitiu que se fizesse em seu governo”.
Vice-líder do PSDB, Álvaro Dias também subiu no caixote: "Há uma relação de promiscuidade entre o presidente e os partidos que o apóiam”.
Beleza. O diabo é que FHC, assim como Lula, também se entregara, com despudor inaudito, às relações partidárias hetedodoxas.
Nascido de uma dissidência supostamente ética, o PSDB contribuiu decisivamente para o esfarelamento moral que toma o país de assalto.
Nem nos seus piores pesadelos, os brasileiros esclarecidos supunham que FHC e suas alianças exóticas produziriam cenas como aquelas de abril de 2000.
Uma imagem na qual ACM e Jader aparecem se xingando de ladrão no plenário do Senado. Àquela altura, os dois eram aliados de cinco anos do tucanato.
Do mesmo modo, a esquerda dita socialista jamais imaginara que Lula, seu melhor representante, fosse presidir uma aliança como a atual.
Uma coligação que dá prontuário novo a Jader. E que santifica de Renan (ex-ministro de FHC), a Sarney, passando por Collor.
De duas uma: ou FHC e Lula não estiveram à altura das suas oportunidades ou os tempos não estiveram à altura dos dois.
Nesse ambiente, caberia ao eleitor distinguir o Cristo do Judas. Mas 20 anos de democracia não conseguiram produzir no Brasil o eleitorado consciente.
Por ora, o brasileiro frequenta o enredo da peça no papel de bobo necessário à preservação da pantomima.
Escrito por Josias de Souza às 18h49
Nenhum comentário:
Postar um comentário