Cada um a seu modo, a seu estilo,
para seu público particular, petismo e bolsonarismo são insuperáveis no manejo
dos símbolos. Não buscam uma adesão racional e calculada das massas às suas
causas, porém algo mais visceral, atávico. Dialogam não com o suposto ser ponderado,
bem-pensante e civilizado do terceiro milênio, mas com o humano mais profundo,
que vem da pré-história, que vive em um mundo perigoso, cercado de inimigos, e
precisa ser protegido pelos seus.
É por essa lógica de acolhimento que é
imprescindível tanto ao petismo como ao bolsonarismo a figura de um grande
líder. De um lado, Lula, quase um arquétipo do condutor sonhado pelos
intelectuais marxistas, que após uma vida de privações construiu sua liderança
dentro de uma estrutura fabril e sindical. Do outro, um militar voluntarioso
que se rebela contra o que considera um grande sistema que conspira contra a
família, o país, e os valores cristãos.
A posse de Lula em 2023 é um
exemplo perfeito dessa imagem alegórica. Um presidente que para tantos foi
preso injustamente sobe a rampa do Palácio do Planalto, para a posse, ladeado
de uma criança pobre, uma mulher negra, uma pessoa com deficiência, um velho
cacique de uma tribo oprimida. A imagem é de uma carga emocional para muitos
avassaladora, ainda mais em tempos de identitarismo. Não é razão, mas puro
afeto, no sentido original do termo de afetar, de comover.
Bolsonaro não faz diferente, mas atua em outra dimensão metafórica. Seus
símbolos estão no verde-amarelo da pátria, em descer um dia da rampa do Palácio
carregando, com os braços levantados, uma imagem de Jesus Cristo; ao se deixa
fotografar naquela mesa de café da manhã com garrafas plásticas de refrigerante
e latas de leite condensado, de conversar todas as manhãs com os representantes
do povo. O verdadeiro sujeito comum, ao mesmo tempo, herói defensor das
famílias de bem.
É quase uma batalha de titãs em
jogo a dividir o Brasil. De um lado a religião, a família e a pátria como
espaços a serem protegido. Do outro, mulheres, pobres, vítimas da desigualdade.
Trabalha-se com sentimentos enraizados em cada um. No bolsonarismo profundo
fala-se de guerra pelos valores e civilização ameaçados. No lulismo, a retórica
de defesa dos mais carentes contra a elite opressora (a questão da democracia
teve a função mais de trazer para o mesmo lado quem não conseguia se
identificar com nenhum dos dois – isso é assunto para outro texto). Mas é
possível dizer que são grupos algo dogmáticos, avessos a questionamentos que
não sejam internos e atuam na lógica da batalha. Costumam tratar os adversários
como uma caricatura. Mais.
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