Livro de Osvaldo Orrico - 1976
A moeda perigosa
Muitas anedotas de Getúlio ou sobre Getúlio foram inventadas
pelo povo como diagnóstico das características que o marcaram como político e
homem do poder.
Entre essas histórias que aparecem aqui e ali, algumas
sobrevivem pela verossimilhança com que foram criadas para definir seu instinto
de sobrevivência no palco dos acontecimentos que por tanto tempo dominou.
Às vezes o episódio é montado e urdido com tamanha
naturalidade que até se aponta o nome das personagens que dele participaram.
Tal é o caso de uma senhora angustiada, que procurou o
Hospital do Pronto Socorro, onde é atendida pelo médico de plantão, o doutor
Caiado de Castro.
Do grande cirurgião se aproxima e a mulher em lágrimas:
- Doutor. Estou desesperada. Meu filho engoliu uma moeda.
O cirurgião tenta acalmá-la:
- Isto, minha senhora, ocorre todos os dias. Não é motivo
para susto. O menino não corre nenhum perigo.
E trata de investigar a causa e que tipo de moeda foi
engolida.
- Foi uma dessas de níquel, postas agora em circulação.
- De níquel, dessas que tem a efígie do Presidente Getúlio?
- Dessas mesmo, doutor, dessas mesmo.
O cirurgião coça a cabeça:
- Já extrair do estômago das crianças muitas quinquilharias
que elas engolem: botões, bolas de gude, pratinhas de um e dois cruzeiros; mas
essa, minha senhora, vai ter de ficar na barriga do menino.
- Mas por que, Doutor?
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