Há 42 anos – 1977
Foi na segunda-feira, dia 10
No dia seguinte, no jornal Feira
Hoje
Franklin Machado escreveu
“Requiem para uma feira”
Vale a pena ver de novo
– Somente a natureza amanheceu
chorando ontem. Na praça principal, a azáfama da feira-livre se repetia como em
toda segunda-feira. Ninguém diria se não soubesse que aquela seria a última
feira ali, depois de uns duzentos anos.
E ali a feira se despedia sem
solenidade. Como um general que ganhou a guerra e se aposenta sem querer
receber nenhum louro. Como um filósofo que sabe serem essas coisas efêmeras. O
que vale é o registro histórico.
O tempo chorou, mas sabemos que
amanhã é um novo dia. E o sol nascerá radioso, brilhante. Logo, a feira não se
acabou. Apenas, muda de local. Um local que ainda está meio escondido, pois lhe
faltam as vias de acesso projetadas e a visão psicológica de quem chega na
praça e não a vê. Como no velho costume. Somente um bequinho por entre o
Umuarama Hotel (quer dizer reunião de
amigos em tupi-guarani) e a Loja Pires junto, justamente, à Visão.
O último dia da feira passou em
brancas – nuvens, como nos lembrou o ex-radialista Lucílio Bastos (hoje se
revelando um cronista das coisas e gentes feirenses). E o comerciante Carlos
Marques que, talvez, se estivesse nos seus tempos carnavalescos de rapaz, faria
uma marcha sobre o acontecimento. Aliás, retruquei, “brancas nuvens”, não, pois
as nuvens estavam escuras da chuva.
A hora não é para saudosismo
nesta Feira que se industrializa, que se asfalta em ruas e estradas, que se
alteia, arranhando o céu. Mas a feira ali dava qualquer coisa de original e
único. De coisa bem personalística como seu nome: Feira de Santana!
Nome que começa com seu começo.
Em torno da capelinha de Sant’Anna, da fazenda Olhos D’água, dos velhinhos
portugueses Domingos e Ana Brandão. Ali na estrada de São José das Itapororocas
para Cachoeira, Feirinha dos tropeiros, dos boiadeiros, dos vaqueiros, dos
mascates, etc. História oficial que hoje também está sujeita às mudanças pelos
estudos do Monsenhor Renato Galvão.
Não vamos mais ficar a lamentar
ou a rememorar fatos, uma vez que nós feirense somos gente portuguesa
acostumada a sair pelo mundo para criar mundos. Gente afeita a olhar para o
futuro, mas chorando nos fados tristes.
Foram esses novos feirenses José
Falcão da Silva e Lindalvo Farias que tiveram a coragem de sacudir a poeira dos
séculos. Com base num plano integrado do governo João Durval. Entrará Colbert
Martins com a incumbência de consolidá-la. Sabemos que ela será recalcitrante.
Teimará em ficar pelas adjacências como mulher apaixonada que não quer deixar
seu homem.
Mas é vida. Viver é estar sempre mudando, se renovando.
Quando se perde essa capacidade é a velhice e a morte. Tenho visões
futurísticas para essa nova feira. Já a cantei em álbum e folheto de Literatura
de Cordel. Porém não pude deixar de ver o dia chorar ontem. E, olhando para os
feirantes e suas coloridas mercadorias, também chorei.
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