Por Fernando Brito
Do jornalista Kennedy Alencar, um raro oásis de equilíbrio
na grande mídia, em seu comentário no
“Jornal da CBN”:
Previsto para amanhã, em Curitiba, o depoimento do
ex-presidente Lula ao juiz federal Sergio Moro tem sido cercado por luta
política. O caso ilustra a confusão de papéis vivida por integrantes do
Ministério Público e do Judiciário em relação aos políticos.
Não cabe a um juiz divulgar vídeo nas redes sociais, como
fez Moro, dizendo quem deve ou não comparecer a manifestações políticas.
Quando age assim, ele dá razão aos que o criticam por
incorporar o papel de líder de um lado – no caso, dos apoiadores da Lava Jato.
Juiz não deve ter atuação política, mas ser e parecer imparcial. Um magistrado
não pode ser político porque ele tem uma caneta na mão que manda prender e
manda soltar. Detém um poder tremendo.
Já o ex-presidente Lula é um político e tem direito de agir
como tal. Deve dar explicações à Justiça como qualquer cidadão, mas tem o
direito de apontar perseguição política se considerar que isso está
acontecendo.
O pedido de adiamento do depoimento faz sentido diante de
uma quantidade enorme de novos documentos que foram incluídos no processo. A
tese do Ministério Público é que dinheiro de propina da Petrobras irrigou as
finanças pessoais de Lula, inclusive no caso do apartamento do Guarujá.
Ora, recentemente, o ministro Gilmar Mendes decidiu que a
Polícia Federal não poderia interrogar o senador Aécio Neves apresentando
documentos ou provas que ele desconhecesse. No caso de Lula, será difícil a
defesa ter ciência de tudo o que consta desses documentos da Petrobras.
Não é boa a imagem em que um juiz aparece como boxeador de
uma luta, retrato feito por uma revista semanal a respeito de depoimento de
Lula. Quando envereda pela política, Moro enfraquece a Lava Jato e fortalece
Lula, que ganha argumentos a favor do seu ponto de vista.
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