Por Fernando Brito
O depoimento de Renato Duque a Sérgio Moro não tem nenhuma
lógica senão a de um homem que vê em acusar a única chance de sair da cadeira.
Diz que foi indicado (genericamente) para compor a diretoria
da Petrobras, sem especificar por quem ou porque.
Diz que nunca participou do famoso acordo que previa a
transferência de valores ao PT, que, segundo ele, era solicitado pelo partido
como doação diretamente às empresas. Neste caso, lógico, alguém teria – do lado
do partido ou do lado das empresas, de dizer a ele que tinha sido pedido ou que
tinha sido dado.
Diz que doar ou não doar não afetava o resultado da
licitação. “Não precisava chegar na empresa e dizer que tinha que contribuir,
até porque não tinha que contribuir, não era algo obrigatório. Ganhou a
licitação, vai levar a licitação”, disse ele.
Ué, então não tinha propina para ganhar licitação?
E os milhões que ele e seu auxiliar, Pedro Barusco, vieram então
de simples generosidade das empresas, sem contrapartidas? “Eu nunca pedi” disse,
“eu só aceitei”. “Não havia necessidade de pagar”, assegura.
– Se alguém se recusasse a pagar, não havia nenhuma
penalidade.
Temos então que as empresas davam porque eram boazinhas e
deram 20 milhões de euros espontaneamente
a Duque sem nada em troca. Até Sérgio Moro estranhou: “mas as empresas
davam em troca de quê?”.
Mas o mais incrível é o fato de que, mais uma vez, a
acusação a Lula é na simplória base do “eu tenho certeza de que ele sabia”,
apoiada em histórias de que ”Lula tinha muito conhecimento sobre a questão das
sondas e fez varias perguntas sobre isso”. O detalhe, porém, é que ele diz que
todos os encontros se deram depois de ele ter sido demitido da Petrobras, em
2012. O que levaria Lula se tivesse interesse em “desenrolar” algo neste
assunto, a tratar com um ex-diretor.
O último encontro é especialmente inacreditável. Lula, nas
próprias palavras de Duque, teria dito que Dilma estava preocupada com boatos
de que um ex-diretor tinha contas na Suíça, abastecidas com dinheiro da SBM,
uma armadora de navios.
Ora, se sua relação era com Vaccari, porque seria necessário
Lula perguntar? Lula iria tratar, quando a Lava Jato já estava em curso,
pessoalmente deste assunto com alguém com quem não tinha quase nenhuma
intimidade?
Acusar Lula virou a tábua de salvação dos náufragos da Lava
Jato. A elas, todos se agarram mas sem conseguir apontar sequer um dado
concreto, senão que “teriam se encontrado” com ele e “teriam tratado” disso.
O que, na varado Dr. Sérgio Moro, é “prova suficiente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário