sexta-feira, 22 de julho de 2016

O RIO VAI PERDER O AMIGO DA MADRUGADA, DOS PORTEIROS, TAXISTAS, CATADORES?

Por Fernando Brito

Recebi, e republico com dor e prazer, a carta-crônica da Marceu Vieira sobre a demissão – é demissão, mesmo, porque o contrato era de emprego – do radialista Adelzon Alves da EBC- em que ele, na falta de santos a quem apelar, apela às almas dos nada santos defuntos donos da mídia brasileira.

Adelzon é um personagem que se confunde com as madrugadas no Rio de Janeiro há mais de meio século.  É pior ainda, porque isso se faz quando outra carioca das antigas, a Rádio Nacional, com quem ele passava as noites, está completando 80 anos.

Para quem não é do Rio ou é e muito novo, já do tempo destes troços que foram pendurando na gente – walkman, cd-player, Ipod e agora o celular que quase já perdeu o nome de telefone, de tanto que faz – o Marceu conta que é o Adelzon.

O presidente da EBC, Ricardo Melo, que Temer quis defenestrar, talvez nem saiba que estão fazendo isso. Ou, quem sabe, tenha há tanto tempo emigrado do Rio para São Paulo que se esqueceu das noites cariocas, com o o Angu do Gomes na Praça XV, o biscoito Globo, e os radinhos de pilha dos porteiros, dos vigias, dos taxistas, dos catadores e até dos sem-teto, nas calçadas, de onde quase invariavelmente saía a voz dos sem amigos, exceto ele, o amigo da madrugada.



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