Por Miguel do Rosário
Um dos problemas da mídia brasileira é que ela inventa uma
narrativa que não corresponde à realidade.
Apenas serve a um propósito político.
Segundo esta narrativa, a corrupção começou agora, com o PT.
É uma coisa esquizofrênica, porque no momento em que a
Polícia Federal e o Ministério Público iniciam grandes investigações, que não
poupam ninguém, nem membros do governo, nem gente da cúpula dos partidos
governistas, ou seja, quando há efetivamente, combate à corrupção, pinta-se um
quadro de descontrole administrativo que, na verdade, pertence ao passado.
A corrupção em grande escala sempre acontece nos bastidores
do poder. Por isso, investigações que não atingem o próprio governo e os
próprios partidos no poder não são objetivas.
Era o que acontecia antes. Não havia investigação. A Polícia
Federal era uma ferramenta de partido, e suas atividades não poderiam jamais
afetar a imagem do governo. Ao final do
governo FHC, chegou-se ao cúmulo do diretor da Polícia Federal ser um militante
filiado ao PSDB.
Hoje, não. Hoje a Polícia Federal tem independência. Tanta
independência que alguns setores são, inclusive, acusados de estarem à serviço
da oposição.
Isso também não pode acontecer. A PF não pode servir nem ao
governo, nem à oposição.
De qualquer forma, ninguém hoje nega que a PF tem muito mais
autonomia do que jamais teve no passado. Investiga mais, possui mais estrutura
(mais gente e mais recursos), e tem mais autonomia.
Dito isso, publico abaixo uma entrevista concedida à Istoé,
em fevereiro de 1996, por Murilo Mendes, então presidente de uma das maiores
empreiteiras nacionais, a Mendes Jr.
É uma entrevista com valor político e literário. Político,
porque Mendes Jr. abre o jogo, às vezes diretamente, às vezes com insinuações,
sobre a corrupção generalizada que existia na relação entre as empreiteiras e
os governos.
A própria Istoé, no editorial daquela edição, deixa bem
claro que a corrupção era a regra:
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