segunda-feira, 9 de março de 2015

QUEM TEM MEDO DA DEMOCRACIA?


Os chamados “anos de chumbo”, que se abateram sobre o Brasil durante a ditadura civil-militar de 1964, contribuíram para a existência, posteriormente, do maior período ininterrupto de vigência do regime democrático em nosso país.
Por Osvaldo Ventura
Desde o golpe militar que derrubou o imperador D. Pedro II e instaurou a forma republicana de governo em nossa pátria, jamais houve tempo tão grande de convivência democrática na sociedade brasileira. Afinal, a falta de liberdade e o desrespeito aos direitos humanos marcaram de dor e sofrimento toda uma geração, respingando em outra.
Razão suficiente para se cultuar, após a tragédia, a existência de um Regime Democrático de Direito.
Obviamente, levando-se em conta o conceito de Democracia Burguesa, na qual o Poder estará sempre em mãos das classes dominantes. Ou seja, formalmente é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Mas, na prática, as decisões de Estado serão eternamente produto dos conchavos das elites detentoras dos meios de produção.
Apesar disso, com exceção do tresloucado confisco dos ativos financeiros no governo Collor de Mello, tivemos três décadas sem quaisquer restrições às liberdades democráticas e aos direitos individuais e coletivos.
Contudo, a mídia oligopolizada e manipuladora, receosa de perder privilégios com mais avanços democráticos, atualmente envenena as massas com seu discurso pernicioso, dissimulado e destruidor.      
Por certo, tem medo da Democracia!
A dúvida hoje é se a burguesia e a classe média tradicional “suportarão”, de bom grado, “os efeitos colaterais” de um regime democrático. Principalmente a inclusão social. O reconhecimento de que o povo existe como sujeito de direito. Essência da verdadeira democracia.
Porquanto, a maioria da burguesia brasileira, que carrega no seu DNA a “síndrome da Casa-Grande”, certamente gostaria de continuar se servindo da Senzala. Este, igualmente, deve ser o desejo da maior parte de nossa classe média tradicional. Eternamente espremida entre a ânsia de subir e o temor de cair social e economicamente. Desde sempre refém do discurso classista, discriminatório e preconceituoso das elites que controlam o Poder. Essa classe média, na medida em que clama pelo golpe, antessala da ditadura, também tem medo da Democracia. 
Até experimentar os tacões do arbítrio, da barbárie e da prepotência. Quando, então, será tarde demais para implorar por uma fresta de luz na escuridão de uma ditadura.
Há que se repetir: “A Democracia é a pior de todas as formas de governo, excetuando-se as demais”. 
(*) Advogado, escritor
Membro da Academia Feirense de Letras

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