domingo, 20 de abril de 2014

FEIRA ONTEM - O CINEMA EM 1932

Poema de Eurico Alves Boaventura

No domingo descansado,
depois que as luzes da cidade cigarrearam,
o cineminha sorriu possante, lâmpada de duzentas velas à porta

Cine-Teatro San’Anna, que me faz sonhar outrora,
com bandidos roubando a minha coleção de selos,
e com certa loirinha mordendo-me a ponta do nariz...

Tom Mix e bandidos vão boxear na tela,
do pequeno cinema da Rua Direita.
Repleto os  camarotes.
E a plateia, completa ânsia febril de ávidas atenções crianças.

A senhorinha de vermelho-claro ajeita vaidosa o cabelo.
a careca da frente, luzidia, polida,
está tentando um cascudo camarada.

O escriturário do armazém sacode o lenço no rosto sem suor,
para sacudir  o extrato francês made in São Paulo no rosto do vizinho.

Entra, às vezes, um cheiro de rua pelos ventiladores...
Depois do espetáculo,
na noite calada e adormecida como mulher boêmia,
os meninos fortes incharão o peito infantil,
quebrarão, ao lado, o chapeuzinho de feltro,
porão as mãos em atitudes de ataque,
aos outros que, ao alto levarão as mãos inermes,
imitando sisudos a perigosa mentira do filme americano 



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