domingo, 8 de setembro de 2013

HOSPITAIS DE LUXO CUSTAM MAIS QUE O "MAIS MÉDICOS"

7 de setembro de 2013 | 19:57
Os quase seis mil médicos formados no exterior – brasileiros, cubanos e de outras nacionalidades – custarão ao Brasil, se colocarmos aí uns 50% além de seus salários como custo administrativo, algo como R$ 90 milhões por mês ou R$ 1,18 bilhão por ano, para darem assistência a cerca de 10 milhões de brasileiros, se considerarmos a média de 1,8 médicos por mil habitantes hoje registrada no país.

Muito dinheiro?

Pois a Folha anuncia hoje que a ampliação da rede hospitalar de luxo no Rio de Janeiro – em hospitais “voltados para o público de renda alta, com serviços de hotelaria cinco estrelas e alta tecnologia, estão sendo alvo de investimentos que somarão R$ 1,2 bilhão em unidades a serem construídas ou reformadas até 2017. Serão três novos empreendimentos com esse perfil — um deles um complexo hospitalar– fora a expansão de outros dois”.

Mas o que tem a ver uma coisa com a outra, se um programa é público, com dinheiro do Estado e outro é privado, com investimento de particulares, entre eles grandes grupos médico-empresariais  norte-americanos, como o Esho,  e nacionais, com participação de bancos de investimento?

Simples.

Tudo isso vai ser pago com dinheiro de impostos. Porque os investidores vão recuperar o que vão aplicar e muito mais como retorno e seus clientes-pacientes vão descontar tudo o que lhes pagarem no seu imposto de renda a pagar.

Isto é, tudo sai – deixando de entrar – do dinheiro público.

Agora some o que vai ser investido no Rio com o que está sendo investido em São Paulo, Belo Horizonte e outras capitais e cidades com poder aquisitivo para estes “hospitotéis”? Dava para bancar todo o Mais Médicos e sobrava.

Mas isso não escandaliza nossos médicos. Não aparece um a sugerir que, para obter mais recursos para a saúde pública, é preciso rediscutir os limites da  renúncia fiscal para despesas médicas (imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas, excluídas as isenções em medicamentos e hospitais filantrópicos).

Só isso representa, hoje,  cerca de R$ 13 bilhões por ano, mais do que se gastará com o “Mais Médicos” nos três anos dos contratos.

Não é hora da sociedade discutir se continuará pagando indiscriminadamente despesas médicas realizadas com valores muito acima do necessário, por contemplarem atendimentos luxuosos? Será que não deve haver limite de dedução fixo e percentual sobre a renda, como existe com os fundos de previdência privada?

Mas o elitismo da sociedade brasileira é tão forte que mexer com isso vai ser recebido pela mídia e pelos médicos  como um atentado à Saúde.

Embora um atentado à Saúde pública seja transferir uma montanha de dinheiro para financiar os negócios privados de luxo na saúde, enquanto a rede pública vive à míngua de pessoal de recursos para melhorar.


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