7 de setembro de 2013
| 19:57
Os quase seis mil
médicos formados no exterior – brasileiros, cubanos e de outras nacionalidades
– custarão ao Brasil, se colocarmos aí uns 50% além de seus salários como custo
administrativo, algo como R$ 90 milhões por mês ou R$ 1,18 bilhão por ano, para
darem assistência a cerca de 10 milhões de brasileiros, se considerarmos a
média de 1,8 médicos por mil habitantes hoje registrada no país.
Muito dinheiro?
Pois a Folha anuncia
hoje que a ampliação da rede hospitalar de luxo no Rio de Janeiro – em
hospitais “voltados para o público de renda alta, com serviços de hotelaria
cinco estrelas e alta tecnologia, estão sendo alvo de investimentos que somarão
R$ 1,2 bilhão em unidades a serem construídas ou reformadas até 2017. Serão
três novos empreendimentos com esse perfil — um deles um complexo hospitalar–
fora a expansão de outros dois”.
Mas o que tem a ver
uma coisa com a outra, se um programa é público, com dinheiro do Estado e outro
é privado, com investimento de particulares, entre eles grandes grupos
médico-empresariais norte-americanos,
como o Esho, e nacionais, com
participação de bancos de investimento?
Simples.
Tudo isso vai ser
pago com dinheiro de impostos. Porque os investidores vão recuperar o que vão
aplicar e muito mais como retorno e seus clientes-pacientes vão descontar tudo
o que lhes pagarem no seu imposto de renda a pagar.
Isto é, tudo sai –
deixando de entrar – do dinheiro público.
Agora some o que vai
ser investido no Rio com o que está sendo investido em São Paulo, Belo
Horizonte e outras capitais e cidades com poder aquisitivo para estes
“hospitotéis”? Dava para bancar todo o Mais Médicos e sobrava.
Mas isso não
escandaliza nossos médicos. Não aparece um a sugerir que, para obter mais
recursos para a saúde pública, é preciso rediscutir os limites da renúncia fiscal para despesas médicas
(imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas, excluídas as isenções em
medicamentos e hospitais filantrópicos).
Só isso representa,
hoje, cerca de R$ 13 bilhões por ano,
mais do que se gastará com o “Mais Médicos” nos três anos dos contratos.
Não é hora da
sociedade discutir se continuará pagando indiscriminadamente despesas médicas
realizadas com valores muito acima do necessário, por contemplarem atendimentos
luxuosos? Será que não deve haver limite de dedução fixo e percentual sobre a
renda, como existe com os fundos de previdência privada?
Mas o elitismo da
sociedade brasileira é tão forte que mexer com isso vai ser recebido pela mídia
e pelos médicos como um atentado à
Saúde.
Embora um atentado à
Saúde pública seja transferir uma montanha de dinheiro para financiar os
negócios privados de luxo na saúde, enquanto a rede pública vive à míngua de
pessoal de recursos para melhorar.
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