EDUARDO MOTTA E A RÁDIO
CULTURA.
Em setembro de 1983, circulou o
primeiro número da Revista Panorama, projeto do falecido empresário Antônio
Gonçalves, reunindo grandes profissionais.
Na estreia, entre as matérias,
uma longa entrevista com cacique político Eduardo Froes da Motta. Nela vale
lembrar quando ele trata do golpe de 1937 e principalmente de sua luta para
conquistar a Rádio Cultura de Feira que seria cassada na vigência do golpe de
1964.
O Senhor apoiou o golpe de 37?
- Não. Os partidos políticos não
intervieram na revolução. Foi uma revolução de cúpula, de alto nível, de
maneira que os partidos não opinaram. Mas eu acompanhei a revolução de 30, que
foi daí, realmente que ocorreu a modificação do país. Naquele tempo nos tivemos
presidentes militares. O Dutra, por exemplo, um grande presidente, contra meu
partido, mas eu, várias vezes me entendi com ele.
O Senhor teve oportunidade de
estar com Dutra?
- Tive. Na ocasião da Rádio Cultura,
porque quem trouxe a Rádio Cultura para aqui fui eu. Eu consegui o canal,
quando na ocasião era prefeito Almáchio Boaventura.
Como foi?
- O projeto da rádio foi de
Almáchio, e naquela ocasião funcionava a Rádio Sociedade que pertencia a Pedro
Matos. Pedro, muito amigo de Juracy Magalhães, e o Juraci prometeu a ele que não
consentiria a entrada de outro canal de rádio em Feira, enquanto ele tivesse
prestígio no governo federal.
Tratando-se de minha terra, tendo
um correligionário meu à frente do projeto, eu me interessei em conseguir o
canal.
Fomos varias vezes a Comissão
Técnica de Rádio e encontramos as dificuldades. Fomos ao ministro, e
dificuldades em falar com ele. Eu, então, reuni a bancada, que era constituída
do senador Pedro Aleixo, do senador Moacir e de alguns deputados da Bahia como
Vieira de Mello, Pacheco de Oliveira e fomos a Dutra.
Lá Moacir foi quem falou em nome
da bancada e colocou a questão da Rádio Cultura como um assunto político:
- Senhor Presidente, o prédio da
Rádio Cultura já está construído, é justamente o PSD, partido contrário de
Vossa Excelência, presidido aqui (neste tempo havia democracia...!) pelo nosso
amigo deputado Fróes da Motta. E se esse canal não for concedido é um
desprestígio para um chefe político, que não conseguiu porque o partido oposto
não permitiu.
Então o Dutra nos respondeu com
aquele aspecto amável dele: -“Os senhores esperem um instante que o ministro
neste momento vem falar comigo e eu então abordarei o assunto a ele”. Descemos,
ficamos numa saleta, e momentos depois sobe Pestana, que era ministro,
entendeu-se lá com o presidente e quando desceu perguntou logo: “Quem é o
deputado Fróes da Motta?”
- Sou eu.
- O Senhor poderia ir amanhã ao
Ministério, falar comigo?
- Pois não, às suas ordens,
amanhã estarei lá.
Dia seguinte eu fui lá. Todas as
portas estavam abertas. Não houve dificuldade nenhuma.
- Deputado, faça logo uma
petição, requerendo da Comissão Técnica de Rádio, a concessão do canal.
Eu fiz e ele despachou
imediatamente, pedindo a comissão que olhasse com simpatia. Eu então perguntei
se levaria ao almoxarifado e ele disse: “Não fica logo comigo”.
Quando desço o rapaz do
almoxarifado perguntou: “O senhor vai deixar a petição aqui?”. Eu disse: Não,
ficou com o ministro e de lá mesmo segue.
E foi assim que eu consegui a
concessão da Rádio Cultura, e que hoje sinto não está funcionando como deveria
estar. Uma rádio muito prestigiada, sem desconhecer as outras....
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