segunda-feira, 2 de março de 2015

A GRÉCIA NA UTI

(*)Por Osvaldo Ventura   
           
Em estado comatoso, o berço da democracia respira por aparelhos. Isso desde 2010, por ter sofrido um golpe de estado financeiro, ou seja, quando teve sua soberania violentada e seu povo dominado e vilipendiado pelo capital rentista. Tudo em nome do neoliberalismo engendrado no famigerado Consenso de Washington.
Diferentemente do clássico golpe a manu militari, no qual se depõem governantes e se enfrenta as reações com baionetas e balas de metralhadoras, o golpe de estado financeiro age de forma “civilizada”. Sem disparar um tiro, invade os Estados Nacionais com sua devastadora política de austeridade, destruindo por asfixia a economia e matando literalmente seus povos. É o clássico receituário neoliberal empurrado goela abaixo dos países que tiveram a desdita de necessitar de empréstimos externos de estados soberanos ou de organismos multilaterais.   
Decorrido quase meio século, a teoria de que “o livre mercado”, por si só, iria regular as relações econômicas, transformou-se na maior e mais perversa concentração de renda da história da humanidade. Ameaçando a convivência pacífica da civilização.
É pura falácia, também, que “o crescimento é como a maré alta: levanta todos os barcos”. Isso porque a renda produzida pelo crescimento somente será distribuída de maneira menos injusta se houver regulação estatal.
O neoliberalismo nada mais é do que o salve-se quem puder. Sem regras, sem limites, acumulou rendas de tal ordem que está se tornando autofágico. O excesso de capital financeiro está matando o próprio capitalismo. Pois, como se sabe, o rentismo não produz um só alfinete; quando poderia estar produzindo bens de capital.
Por ironia da História, a Grécia, onde se originaram as primeiras concepções sobre um regime democrático, sofre hoje verdadeira ditadura imposta pelo poder externo e incontrastável  do capitalismo mundial em sua fase mais deletéria.
Durou pouco a esperança de que a nação helênica saísse dessa situação aflitiva, com a eleição do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. Não foi o bastante.
A “banca mundial” do rentismo, atualmente ancorada na Alemanha, não aceitou a proposta do governo de Tsipras. Prolongou sua agonia. Deu-lhe, então, quatro meses de prazo para que o plano dos banqueiros fosse reavaliado e aceito. Do contrário...
Sem a necessária correlação de forças, ou Tsipras aceita o acordo ou o rentismo “lhe tira o tubo”.  
(*) Advogado, escritor
 Membro da Academia Feirense de Letras

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