sexta-feira, 10 de novembro de 2023

FEIRA ONTEM

 


A MICARETA DE 1950

            Quando começou o mês de abril do distante 1950, todas as atenções de Feira de Santana já estavam voltadas para a micareta, que naquele ano foi realizada nos dias 15, 16, 17 e 18. O “sonoplasta” da Rádio Sociedade, a única da cidade, só colocava no ar musicas momescas, o mesmo acontecendo nos serviços de som fixos existentes nos subúrbios, principalmente o de “seo” Armando, nas Baraúnas.

RICOS E POBRES

Na sua edição nº 2126, a primeira do mês, o decano jornal “Folha do Norte” publica ilustrada com o clichê (era assim que se dizia) de um pierrô, a seguinte nota sobre a festa momesca: “Está chegando a hora... A Feira dentro de oito dias estará em plena micareta, que é uma festa sempre nova, diferente de todas as outras festas, a melhor festa da cidade princesa. A cidade inteira será contaminada pela alegria desta festa que é de ricos e pobres. A Rua Direita ficará inundada de foliões, gente dos subúrbios, visitantes de várias cidades, para ver as nossas batucadas e cordões para brincar e cantar”.

 OS CLUBES SOCIAIS

            Além da animação de rua, três clubes brindavam os filões feirenses e de cidades vizinhas com grandes bailes, conforme atesta o noticiário de semanário: “As diretorias da Filarmônica “25 de Março”, Vitória e Feira Tênis Clube vão premiar a melhor fantasia apresentada nos seus grandes bailes, quatro em cada clube” e que “os foliões vão precisar de muita vitamina para agüentar a farra”.

 O QUARTEL GENERAL

            A Rua Direita, hoje ruas Conselheiro Franco e Tertuliano Carneiro, era o sitio da festa, ou o “quartel general” como se denominava na época. Tudo que acontecia na Rua Direita, desde a Praça da Matriz à Praça Fróes Motta, era narrado pelos locutores da cidade, entre eles o saudoso Dudinha, que empunhando o microfone envolto num lenço – segundo ele para melhorar o som, dizia estufando o peito: “SPR Constelação, a Voz do Sertão. Falando diretamente na marquise da Loja Pires, para onde abrange toda a sua rede sonora...”

RAINHA E PRINCESAS

            Bem diferente dos dias atuais, a escolha de rainha e princesas era feita democraticamente pelo voto. Em 1950 a vencedora foi Adla Nascimento Sméra que obteve

5.820 votos, ficando como princesas as senhorinhas Marlene Costa Oliveira e Regina Bernardes Santos. Depois de coroadas, as majestades comandavam o préstito micaretesco que saia da Rua Direita e em seguida sob confetes e serpentinas visitavam os clubes da cidade. Abro um parêntese para saudar a princesa Regina, viúva de Milton Costa, hoje a consagrada artista plástica Regina Costa, minha madrinha de casamento em 1970. 

 TEMPO DAS BATUCADAS

            Não existia aparato policial, bastava o tradicional aviso da comissão: “Vale brincar, vale cantar, vale sambar, só não vale brigar”. O folião atendia acompanhando e cantando com as três grandes batucadas da cidade: Embaixada Feirense, Malandros do Morre e Sambistas do Lar. Ao final da micareta, além da melhor batucada a comissão também premiava o melhor cordão, melhor fantasia, melhor máscara.

 ATRAÇÕES DA CAPITAL

            Em todas as micaretas nunca faltaram atrações da capital (ou da Bahia como se dizia antigamente) contratadas pelas comissões organizadoras. Na micareta de 1950 a atração maior foi o Cordão Carnavalesco Cruz Vermelha que chegou “com sua rainha, carro-chefe, guarda de honra e a banda dos clarins com linda arauta feminina para a grande festa da micareta de raro brilhantismo”. O cordão aguardava a hora de invadir o “quartel general” da folia, concentrado no galpão junto da antiga Estação da Leste, atrás da Igreja Matriz.

 CORDÃO “AS MELINDROSAS”...

            Criado por Mestre Narciso da Natividade e Manuel Fausto, o “Manuel de Emilia”, logo após o advento da micareta, o cordão “As Melindrosas” é parte da história da folia de momo nesta cidade. O decano semanário feirense assim anuncia a presença do tradicional cordão feirense na festa de 1950: “Abafando como sempre abafou em outras micaretas, surgirá na Rua Direita, em requebrados gostosos, cantando o interessante samba de Evaldo Rui e Fernando Lobo”.

 A COMPOSIÇÃO DOS POETAS

            Concluindo o noticiário sobre a festa, todo publicado na primeira página, a “Folha do Norte” transcreve a letra dos poetas, com a qual o famoso cordão “As Melindrosas” invadiria a Rua Direita: “Tava jogando sinuca/ Uma nêga maluca/Me apareceu./ Tava com um filho no colo/Dizendo pro povo que o filho era meu/Não sinhô!/Tome que o filho é seu!/ Não sinhô!/Guarda o que Deus lhe deu”.

 

   

 

 

 

 

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