SEBASTIÃO NERY
FOLCLORE POLITICO I
Os dez mandamentos do político mineiro:
01 — Mineiro só é solidário no câncer.
02 — O importante não é o fato, é a versão.
03 — Aos inimigos, quando estão no poder, não se pede nada.
Nem demissão.
04 — Para os amigos tudo. Para os inimigos, a lei.
05 — Respeitar, sobretudo, o padre que consegue votos; o
juiz, que proclama o eleito; e o soldado, que garante a posse.
06 — Nas horas difíceis, cabe ao líder comandar:
"Preparemo-nos e vão".
07 — Voto comprado não é atraso, é progresso. Se o voto é
comprado é porque tem valor.
08 — Em briga de político, geralmente perdem os dois.
09 — Mais vale quem o governo ajuda do que quem cedo
madruga.
10 — É conversando que a gente se entende.
— José Cavalcanti, o filósofo de Patos (Paraíba):
· O homem de responsabilidade política não mente: inventa a
verdade.
· Político é o indivíduo que pensa uma coisa, diz outra e
faz o contrário.
· O político, quando se elege, assume dois compromissos: um
com ele mesmo e outro com o povo. O primeiro ele cumpre.
· Dinheiro é como azeite: por onde passa, amolece.
· Político sem mandato é como chocalho sem badalo: balança
mas não toca.
· O bem público não quer bem a ninguém, a não ser a si
mesmo.
· João Agripino é como mandacaru: não dá sombra nem encosto.
· Político pobre é como mamoeiro: quando dá muito, dá duas
safras.
· Se queres ser bem sucedido na política, cultiva essas duas
grandes virtudes: a sinceridade e a sagacidade. Sinceridade é manter a palavra
empenhada, custe o que custar. Sagacidade é nunca empenhar a palavra, custe o
que custar.
· Oposição agora é como grama de jardim: tem direito de
viver, mas sem direito de crescer. (Obs.: dito durante o regime militar de
1964).
· Oposição é como pedra de amolar: afia mas não corta.
· Governo técnico é como maestro: rege a orquestra de costas
para o público.
— Domingos, filósofo de Jaguaquara (Bahia):
· Oposição e sapato branco só é bonito nos outros.
· Sabedoria, quando é demais, vira bicho e come o dono.
· Candidato é como puta: se não ficar na janela, marinheiro
não vê.
— Ulisses Guimarães, o filósofo da oposição:(traçando a
estratégia da escalada do MDB em 1974, 76 e 78):
. No alto do morro estavam dois touros. O touro velho e o
touro novo. Viram lá embaixo o pasto cheio de vacas. O touro novo ficou aflito:
— Vamos descer depressa e pegar umas dez.
O touro velho balançou a cabeça:
— Nada disso. Vamos descer devagar e pegar todas.
— Deus manda lutar, não manda vencer.
. 1974 não foi uma tempestade. Foi uma tromba d'água.
. O destino do MDB não é a oposição. O destino do MDB é o
poder.
. O Brasil precisa é de um projeto político que comece por
batizar a criança: se é uma democracia, então vamos ter uma democracia!
. Navegar é preciso. Viver não é preciso.
Disse Millôr Fernandes: "...No decorrer de sua experiência
de mais de duas décadas como repórter especializado, Sebastião Nery pode
colher, nos anfiteatros mais engraçados do Brasil, o Senado e a Câmara, muitos
de seus momentos mais hilariantes". E prossegue: "Por isso, é um
livro extremamente atual, esse Folclore Político, com o qual o próprio Nery
aprendeu que, muitas vezes, parar de enfrentar o tigre frente a frente e
puxar-lhe o rabo inesperadamente é mais útil à causa e muito mais eficiente. Já
foi muito dito mas nunca é demais repetir: castigat ridendo mores, ou seja,
rindo é que se castiga os mouros".
Textos extraídos dos livros "Folclore Político nºs. 2 e
3", seleção de Sebastião Nery, jornalista, escritor e político, publicados
pela Editora Record - Rio de Janeiro, em 1976 e 1978, páginas diversas.
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