PINTO; DEPOSIÇÃO E A VOLTA A
CIDADE
A eleição de Chico Pinto para
prefeito ao vencer João Durval na memorável campanha de 1962, foi um duro golpe
na UDN que depois de dominar o poder por oito anos mão vislumbrava perspectiva
de retorno, por força do governo popular e inovador que Pinto implantou ao
assumir a prefeitura em abril de 1963. O golpe militar de março de 64 foi a
tábua de salvação dos udenistas que logo no mês seguinte com o apoio de
militares e aliados ao PTB depuseram o prefeito eleito. No lugar de Chico Pinto
assumiu o petebista Altamir Lopes que 48
hortas depois cederia o lugar ao udenista Joselito Amorim. Arrancado do poder,
Pinto só retornaria a cidade em outubro
de 66, recebido por uma multidão na Praça da Matriz e sendo saudado com um
histórico discurso do “cacique”
pessedista Eduardo Fróes da Motta. Reviva aqui a deposição, vacância e a primeira visita de Pinto a cidade, pós
prisão.
Quarta-feira, 6 de maio de 1964.
Com a câmara ainda funcionando no Paço Municipal e cercada por militares, a
bancada da UDN com o apoio do PTB realiza sucessivas sessões culminando com a
votação e aprovação da Resolução nº 46, declarando vago o cargo de prefeito. A
aprovação foi possível porque os vereadores governistas não marcaram presença
no plenário, oficializando o protesto do PSD contra o golpe tupiniquim em
curso.
Com o cargo declarado vago,
udenistas, petebistas, partidários e alguns militares se dirigiram ao gabinete
do prefeito e assumiram o lugar de Chico Pinto. Providenciaram um livro com
“cento e cinqüenta folhas tipograficamente numeradas”, fizeram o “termo de
abertura” assinado pelo vereador udenista Godofredo Leite Filho, vice-presidente
da câmara no exercício da presidente e empossaram no cargo o vereador petebista
Altamir Alves Lopes, presidente da câmara em exercício, no lugar do “Bel Francisco
José Pinto dos Santos, ex-prefeito do Município, tendo em vista a sua prisão
pelas Forças Armadas”.
Sexta-feira, 8 de maio de 1964. Quando
o petebista Altamir Lopes ainda experimentava a cadeira de prefeito, em nova
sessão da câmara os udenistas “elegeram” para concluir o mandato que Chico
Pinto conquistou nas urnas, o vereador Joselito Falcão Amorim, ex-secretário da
prefeitura no tempo da UDN. O termo de posse foi lavrado na página nº 2,
seguindo-se mais três páginas com diversas assinaturas, algumas ilegíveis.
A presença de militares na
deposição de Pinto não se limitou apenas às galerias da câmara. Na ocupação da prefeitura no dia
Arrancada do poder, cumprindo
prisões e respondendo Inquéritos Policiais Militares, Chico Pinto só voltaria a
Feira de Santana em 1966, na noite de quinta-feira, 27 de outubro, recebido por
uma multidão na Praça da Matriz. No coreto em frente ao templo da Padroeira da
cidade, com um discurso escrito que a multidão interrompeu várias vezes com
aplausos, coube ao “cacique” Eduardo Fróes da Motta, do PSD, saudar o político
deposto. Na seqüência alguns trechos:
O COMEÇO
“Assim, é que regressam os
grandes heróis da Pátria, dos campos sangrentos de batalhas, nos braços do
povo, no coração do povo, transpondo os pórticos das cidades, para serem
reverenciados, para receberem os louros da vitória e o agradecimento
imperecível dos seus compatriotas”.
“Qual um herói e um mártir,
sofreste, de ânimo inquebrantável, de consciência limpa caráter altivo e
forte, as agruras da injustiça e incompreensão dos homens, da pusilanimidade de
alguns, da torpeza e vilania de maus filhos desta terra de Senhora Santana.
Eles, que, para se assenhorearem do poder que hoje desfrutam, caluniaram-te, mentiram
e traíram, legando aos seus descendentes um acervo de ações vis, que os enchem
de opróbrio e vergonha e que passarão á história desta gleba de padre Ovídio, como um marco de vilania e
perseguições a feirenses da estirpe e solidez de caráter de Francisco Pinto”.
“Detendo uma formação limpa, jamais
esmorecida no percurso da estrada cheia de sofrimento, de verdadeira via
crucis, não como aquela que percorreu Jesus, porque és mortal, a que te conduziram
os teus opressores, os inimigos cruéis desta terra”
“quanto sofriam os teus
amigos, e os martírios daquela santa mãe, privada do filho do seu amor, extremoso
e inocente, arrastado ao cárcere; então, é de contemplá-la como a imagem do
sofrimento e da dor, lágrimas rolando de
sua face augusta e melancólica,vendo-se—lhe rasgar as fibra do coração materno
os punhais da delação e da calúnia, sem respeito e sem piedade cristã àquela
figura impoluta, lembrando Maria em procura do filho que a impiedade dos homens
transformou num réu,configurado num outro calvário”.
OS BOATOS
“Contemplamos emocionados esse maravilhoso espetáculo, inédito na história de Feira, não obstante insistentes ridículos e inexpressivos boatos, largamente espalhados pelos nossos ferrenhos adversários, de que as forças armadas não permitiriam a tua vinda, cassada seria a palavra dos teus amigos, espaldeirados e massacrados pela policia todos aqui presentes”.
“O povo, porém, reagiu e aqui está,
coeso, delirante, emocionado, aplaudindo entusiástica e freneticamente o nosso
homenageado, numa demonstração de eloqüente solidariedade e coragem, relegando
ao desprezo os ingratos e truculentos inimigos da terra de Senhora Santana.
“Serás conduzido ao Panteon da gloria, onde fulguram os filhos ilustres e inesquecíveis, os grandes virtuosos vultos da terra de Santana, esta terra que é tua, mais nossa do que deles, pois vives no coração e na memória dos seus filhos que não se abatem e não se humilham as prepotências e aos desmandos dos nossos adversários. O povo exultante, entoando hinos e hosanas, recebe de coração aberta, te saúda te bendiz.estimando conterrâneo. É tua a cidade amada, mais nossa do que deles!
Nenhum comentário:
Postar um comentário