Fernando Brito
Qualquer pessoa de posse da razão,
depois de assistir a entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional terá
concluído que se trata de um personagem autoritário, desprovido de solidariedade
humana e de capacidade para dirigir um país como o Brasil.
O “problema” é o eleitor bolsonarista não está de posse desta “razão” que consideramos normal nas pessoas e foi para ele que Bolsonaro falou os 40 minutos do programa e, quanto a isto, pode até ser considerado bem-sucedido ao falar aos da sua bolha.
Falhou, porém, no que era – ou deveria ser – seu objetivo essencial: falar para fora de sua “bolha”.
Não se impressione com a capacidade de mentir – e o fez várias vezes, como nos xingamentos aos ministros do Supremo e à imitação de alguém morrendo por falta de ar na pandemia. Isso não faz diferença para seus adeptos.
É provável que não tenha perdido um voto, mas certamente não ganhou nenhum, e precisa disso, desesperadamente.
Não conseguiu trazer para seu discurso a tal “pauta de costumes”: Deus, Pátria e Família. Não conseguiu trazer para a cena Lula e as mentiras judiciais que o fizeram enfrentar.
Não conseguiu fazer o terror que trazia escrito na mão, para comparar Lula a Nicarágua, à crise na Argentina, ao mau agouro com a Colômbia, que trazia rabiscado na mão.
Pior, porém, não conseguiu dar emoção ao auxílio-emergencial turbinado que, ainda que eleitoreiro, é a diferença entre a fome e o prato de comida.
Não conseguiu falar das armas “contra a bandidagem”, como se fosse a solução.
Não conseguiu falar de aborto, de gays, de drogas, de tudo o que usa para criar um “inimigo interno”.
Não conseguiu falar do “bem contra o mal”.
Bolsonaro é um moribundo que só está sendo mantido vivo pelo antilulismo renitente de nossas classes médias e do bom-mocismo que relativiza sua selvageria.
A Globo bateu leve, diante do rol de perguntas irrespondíveis que poderia fazer, mas ainda assim foi capaz de tirar dele a iniciativa do jogo. Faltam-nos 41 dias para a eleição, e cada um deles em que não reage, Bolsonaro perde.
Resta saber se o fairplay dos entrevistadores, hoje, será o mesmo na quinta-feira, quando Lula será o entrevistado.
Deveria ser, e muito maior, porque Lula vai recordar o que se fez contra sua imagem na mídia.
Mas bem pouco.
O que estará em pauta é a fome, é o emprego, é o reerguimento do país no mundo.
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