quarta-feira, 10 de junho de 2020

O QUE MAQUIAVEL DIRIA A LULA


Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

"O mundo gira e A Lusitana roda” dizia um antigo slogan de uma transportadora paulista que me parece adequado para entender, em parte, o que acontece atualmente no Brasil.
Entender por completo acho meio impossível.

Em 2018, Lula tinha dois grandes inimigos: Moro, que o colocou injustamente na cadeia às vésperas de se eleger presidente pela terceira vez e Bolsonaro, que, aproveitando-se disso venceu a eleição presidencial, prometendo aniquilá-lo e jurando que iria apodrecer na cadeia.

A seguir, os dois maiores inimigos de Lula juntaram os trapos e celebraram uma união que prometia durar para sempre. Os prognósticos mais pessimistas correram o país. Juntos, os dois inimigos de Lula seriam imbatíveis em 2022 e quiçá em 2026.

Mas o anel era vidro e se quebrou em apenas 17 meses e resultou num divórcio litigioso com “consequências imprevisíveis”, diria o general Augusto Heleno.

O litígio, que Lula assiste de camarote, continua a todo vapor, com nítida vantagem para o presidente. Não satisfeito em apenas provar que Moro o caluniou ao deixar o ministério da Justiça, investe contra seu ex-ministro através da PGR, que reabre o caso Tacla Duran. Sua intenção inequívoca é acabar com a carreira política do ex-juiz: quer vê-lo preso ou cassar seus direitos políticos, para evitar embate com ele em 2022.

Ou seja: por ironia do destino, tudo o que Lula quer desde que foi preso – ver Moro preso ou destronado – é também tudo o que Bolsonaro quer.

Quanto mais Bolsonaro desmoralizar e desqualificar o ex-juiz, melhor para Lula.
Inacreditável, mas Bolsonaro está fazendo por Lula o que nem Haddad teria feito se ganhasse a eleição.

Se fosse vivo, Maquiavel diria a Lula o seguinte: você tem dois inimigos, lutar ao mesmo tempo contra os dois é burrice; deixa primeiro o Bolsonaro destruir Moro, para depois cuidar de Bolsonaro.


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