Por Fernando Brito
Aquele sentimento que não pode ser explicado, mas que
acomete a gente nas horas em que o cansaço se tornou profundo demais para que
passemos a raciocinar com a razão pura é, na linguagem popular, o “bode”.
Não há como negar que todos nós ficamos assim, quando vemos
uma monstruosidade, que em circunstâncias normais deveria estar restrita aos
programas de “mundo cão” das tardes televisivas, crescer ao ponto de
ameaçar eleger um candidato cujo
programa pouco vai além de um “senta o dedo!” ou um “escracha!”.
Chama-se, popularmente, de “bode” o que certa parte da
direita está vivendo, também.
Esta eleição ‘estava no papo’, porque sabiam – e faz tempo –
que não se deixaria Lula concorrer.
Pintaram e bordaram, tentaram inventar candidatos, ciscaram
para todo lado e deixavam um “bode na sala”, como diz a expressão popular sobre
o que se coloca num ambiente para que leve a culpa pelo fedor da situação e que
podem tornar palatável com sua simples retirada.
Porque, sim, Bolsonaro ia murchar assim que surgisse o candidato
da direita “de verdade”.
Os aprendizes de feiticeiro não tinham ideia do poder dos
demônios que invocavam.
Agora, de repente, não sabem o que fazer com eles.
Os espetáculos de boçalidade, de misoginia, de brutalidade
se sucedem. Em nome da família, cantam que “mulheres de esquerda têm mais pelos
que cadelas” e que “Bolsonaro se casou com a Cinderela”.
Garotas de legging e as senhoras de andador da Zona Sul do
Rio entregam-se ao mesmo frenesi insano.
Não é um voto a favor de algo, é apenas um voto contra.
Contra o convívio civilizado, contra o respeito ao outro, contra a
biodiversidade social.
O bode, que seria retirado da sala com a entrada do
candidato viável do Inferno, teimou e ficou por lá, com uma legião de gente que
se embriagou pelo seu fedor.
Que no entanto, é tão repugnante que está assustando muitos
que eram votos certos da direita.
No povão, sobe a onda Lula carregando Haddad em sua crista.
Na classe média, cresce a onda dos que estão de “bode do
bode”, daquilo que lhes oferecem como alternativa ao campo popular.
Parece, porém, que é tarde para criarem outra alternativa.
Também se costuma chamar de bode aquilo que se põe em algum
lugar para que, quando se retira do lugar dá a impressão de tornar menos
asqueroso o mau odor do ambiente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário