Texto
do jornalista Adilson Simas lido em 2007 durante Programa Primeira Página, da
Rádio Povo, apresentando pelo radialista e jornalista Waldomiro Silva. Vale a
pena recordar:
A primeira
referencia oficial sobre a Festa de Santana, segundo estudos de Helder Alencar
data de 1868. Mas a sua realização vem de tempos mais distantes, ainda na capelinha
dos Olhos D’Água, de Domingos e Ana Brandão.
Nos
primórdios a festa era realizada em julho, por ser o dia 26 consagrado a
Senhora Santana. As chuvas do mês e a não interrupção das aulas no meio do ano,
não permitindo uma grande afluência de público, determinaram a mudança da festa
para o mês de janeiro.
Diferente
do que muitos pensam a festa não saiu diretamente de julho para janeiro. Fez um
estágio no mês de setembro entre os anos 80 e 90 do século XIX. Somente no começo do século XX ela passou para
o mês de janeiro, excetuando as de 1914 e 1919 realizadas em fevereiro.
Da
capela dos Olhos D’Água a festa passou para a capelinha do Padre Antonio
Tavares, o sacerdote que confessou Lucas. No mesmo local da capelinha, onde
hoje se ergue a Catedral, Padre Ovídio de São Boaventura iniciou a construção
da Igreja da Matriz concluída por Monsenhor Tertuliano Carneiro e que outros foram
ampliando.
Desde
que surgiu, a Festa de Santana dividia-se em duas partes: a religiosa e a
profana. Além dos bandos anunciadores, no começo formado por jovens mascarados
que montados em seus cavalos percorriam as ruas anunciando mais uma festa, da
parte profana também faziam parte a lavagem da igreja e a levagem da lenha.
A lavagem
acontecia na quinta-feira que antecedia a data magna. Homens, mulheres e
crianças se dirigiam para a igreja com latas, baldes e outros vasilhames e
faziam a lavagem do templo. O trabalho começava pela manhã e ao final, antes do
entardecer, acompanhados por músicos, todos percorriam as ruas com as latas na cabeça.
A levagem,
nos mesmos moldes da lavagem passou a acontecer na terça-feira, vespara da
procissão. Ela teve sua origem no vai e vem das pessoas levando lenha para a
enorme fogueira que era acesa em frente da igreja durante os dias da festa,
quando a cidade ainda não tinha luz elétrica.
As
festas da padroeira dos tempos idos estão registradas nas páginas de antigos
jornais e revistas da cidade. Outras ainda estão na memória da infância de muita
gente feirense.
Essas
publicações informam que nos tempos idos a Festa de Santana, com a parte
religiosa e a profana, era dirigida pelos comerciantes e fazendeiros locais, os
homens ricos da cidade, como se dizia na época.
Foi
nesse tempo que aconteceu a revolta dos operários e fumageiros que
inconformados com aquele privilégio decidiram também assumir a festa. Isso
aconteceu por muitos anos, até que a Irmandade de Santana abraçasse a tarefa.
No começo do século XX a irmandade foi substituída pelas comissões
organizadoras ainda hoje existentes.
Das
festas do passado muitos guardam na memória o tempo em que as famílias levavam
as suas cadeiras e sentavam na praça
para ouvir musicas e assistir os jovens
dançarem em volta do coreto ao som das filarmônicas que se rivalizavam executando dobrados de autores da terra, ou
tocando marchas e ranchos carnavalescos.
Das
festas do passado muitos recordam o tempo das modistas e alfaiates repletos de
encomendas, pois todos queriam fazer roupa nova que era exibida nas novenas, na
missa festiva do domingo maior, como também no dia da solene procissão.
Tempo
dos homens usando ternos brancos de linho inglês, chapéu palinha, gravata bem
larga ou borboleta e o sapato de duas cores. Tempo das senhoras exibindo o
vestido novo também feito sobre encomenda.
Do
tempo das grandes festas, entre as inesquecíveis está a de 1915, que marcou a
inauguração do Altar Mor, construído pelo arquiteto e pintor francês Colman Linhart.
A missa solene foi celebrada pelo arcebispo D. Jerônimo Tomé e a pregação pelo
orador sacro padre Antonio Ferreira.
A festa
soube acompanhar os novos tempos sem perder seu sentido maior. O de reunir em
torno da padroeira, o mundo católico de Feira de Santana. Dos velhos tempos sobreviveu
apenas a tradição das filarmônicas, mesma assim sem a guerra das torcidas em
volta do coreto.
Confetes
e serpentinas que forravam e embelezavam o largo pavimentado com pedras
irregulares, deram lugar a coloridas gambiarras...
As
emoções de cada sorteio da quermesse foram substituídas pelas aventuras no
parque de diversões armado na Praça Padre Ovídio...
O serviço
de som anunciando que um jovem apaixonado dedica a próxima música à moça do
laço de fita azul saiu do ar dando lugar as transmissões diretas das emissoras
da cidade...
Assim
foi a festa até 1987. Em 1988, o bispo Dom Silvério tomou a decisão de separar
os festejos litúrgicos das manifestações profanas. E para dificultar qualquer
resistência retornou a festa da padroeira para o mês de julho, como acontecia até
o século XIX.
Ampla
foi a repercussão e ante as reações contrárias os padres
publicaram nota de desagravo ao bispo. Ate Monsenhor Galvão, sempre do
lado das manifestações populares saiu em socorro do chefe maior da igreja.
Muitos
viram na decisão do bispo uma forma de afastar da festa os templos de candomblé
da cidade, pois crescia cada vez mais suas presenças, principalmente através de
Mãe Socorro e Zeca de Iemanjá.
A igreja
teve defensores, mas a grande maioria condenou o fim da festa de largo.
Sociólogo e professor da Uefs, Ronaldo Sena advertiu:
A
Africanização nos festejos baianos é um fato natural, pois o profano tem sua
origem no sagrado.
- “Ora
essa, o que seria das festas de largo de Salvador, se Dom Lucas Neves
resolvesse separar o profano do religioso?”...
João
Alfaiate, que trabalhava na biblioteca e
era um dos primeiros a ajudar Eme Portugal na ornamentação do andor de Santana
também opinou:
-
As mesmas pessoas que saem na lavagem descontraidamente, com todo respeito que
a ocasião exigia, também saem na solene procissão...
Agora
em 2007 são passados 203 anos da ultima festa misturando o religioso e o
profano. Com as comemorações novamente no mês de julho o único evento da Festa
de Santana fora do templo passou a ser a procissão solene. (Adilson Simas)
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