Por Fernando Brito
Para quem viveu a redemocratização do país, nos anos 80, e
chega agora ao fim inglório da democracia no Brasil, arruinada nas mãos de uma
classe dominante rastaquera, sem projeto de país, de governantes infames e –
este é o dado mais novo e decisivo – de um Judiciário que perdeu toda a
formalidade – sem ter perdido a pompa – fica buscando, perplexo, onde foi o
ponto onde nos perdemos.
Tenho cá comigo um palpite, e creio que o ponto de virada da
pré-ditadura que vivemos hoje – quem sabe um Elio Gaspari póstero a “biografe”
como o título de “A ditadura esculhambada” – se deu em 2009/2010, quando ainda
vivíamos a euforia do progresso que encantava o país. A frase da então
presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Brito. dizendo que os
“meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país,
já que a oposição está profundamente fragilizada” é o marco para um jogo de
pressão da mídia que, progressivamente, encampou o judiciário como o
instrumento de seu poder.
Houve, a partir daí, um progressivo adonamento, pela mídia,
da condução do processo político e, até mesmo, a submissão da própria agenda do
Governo eleito: o julgamento do “mensalão”, a “faxina” no Governo, as “jornadas
de junho” escancaradamente transformadas (e se transformando) em movimentos
massivos e, por fim, a Lava Jato.
A disputa política com a “oposição profundamente
fragilizada” foi, progressivamente, substituída pela disputa com a mídia (ou
nem tanto, pois frequentemente ela era aceita como reitora), e encarnada por
elementos da Justiça, como Sérgio Moro e Rodrigo Janot, que adquiriram poderes
impensáveis numa democracia.
Agora, o ciclo que se iniciou há oito anos terá seu desfecho
nas eleições de outubro, do qual aquela antiga oposição fragilizada elegerá um
presidente igualmente frágil, resultado da frustração da vontade eleitoral
evidente da população, ao fim e ao cabo a razão de todo este processo de
destruição da democracia.
Ou, contra tudo e contra todos, a eleição de um candidato
que consiga encarnar esta vontade castrada e que, no Governo, terá de valer-se
– e logo, com a flamante legitimidade das urnas – do enfrentamento com a
direita real deste país: a mídia e o Judiciário que está posto a seu reboque.
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