Por Fernando Brito
Folha e O Globo trazem hoje relatos sobre as provas
oferecidas pela Odebrecht e pela OAS para ratificar as declarações dos
delatores contra, respectivamente, Michel Temer e o ex-presidente Lula.
A Odebrecht apresentou , segundo o jornal paulista, “extratos
que seriam de pagamento de propina vinculada por delatores a uma reunião com o
presidente Michel Temer em 2010”.
Os valores superam os US$ 40 milhões que, segundo
ex-executivos, tiveram o repasse acertado em encontro com o hoje presidente, em
seu escritório político paulistano.
A propina é ligada, de acordo com a Odebrecht, a um contrato
internacional da Petrobras, o PAC-SMS, que envolvia certificados de segurança,
saúde e meio ambiente em nove países onde a estatal atua. O valor inicial era
de US$ 825 milhões.
Já a OAS, diz o jornal dos Marinho, pretende apresentar a agenda de seu executivo
Léo Pinheiro como prova de que este teve encontros com Lula, à qual a Força
Tarefa pretende anexar um relatório de pedágio demonstrando que os carros que
servem a Lula teriam ido, ao longo de dois anos, seis vezes ao Guarujá. É capaz
de eu ter ido umas seis vezes a Petrópolis ao longo de dois anos, que fica do
Rio mais ou menos à mesma distância e nem por isso tenho um “simplex” lá, que
dirá um triplex.
De um lado, situações objetivas, retratando a movimentação
de mais de uma centena de milhões de reais – “os extratos atingem US$ 54
milhões, mas a soma de planilhas anexadas chega a US$ 65 milhões – saídos de
cinco empresas em “mais de 50 depósitos em offshores fora do Brasil que vão de
US$ 280 mil a US$ 2,3 milhões”.
Ou seja, de onde veio e para onde foi. Uma riqueza
probatória que nem mesmo no caso das contas suíças de Eduardo Cunha se
dispunha.
Do outro lado: “eu digo que foi”, “eu tenho meu diário”,
ninguém ouviu, mas ele me disse” e outras coisas do gênero que podem ser
acusações, mas não adquirem a materialidade da prova: um documento, um
depósito, um registo bancário, uma procuração, nada que se possa usar para
dizer: sim, o apartamento pertenceu a Lula.
O Globo, porém, produz a melhor das provas circunstanciais
de que Léo Pinheiro mentiu em sua delação.
É que informa que o jornal publica, desde 2010, reportagens
dizendo que o tríplex seria de Lula.
Não seria preciso apenas ser corrupto, mas muito burro para
operar um favorecimento na troca de um apartamento no Guarujá que há quatro
anos já despertava os inquisidores da “Lava Globo”.
O contraste das duas investigações é impressionante.
Uma é tudo o que se quer que seja. Na outra, mesmo estando
evidente que é, não é para ser.
Ou, pelo menos, enquanto não de quiser um novo impeachment.
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