Por Fernando Brito
A reportagem – um furo – de Jaílton Carvalho em O Globo na
qual se dá conta de que Marcelo Odebrecht e dezenas de executivos de sua
empreiteira finalmente fecharam um acordo de delação premiada com a
Procuradoria Geral da República não traz uma palavra sobre uma eventual
acusação a Lula.
Ao contrário, ele afirma que “segundo uma fonte, os acordos,
incluindo o do o ex-presidente da Odebrecht, estão um tom abaixo da expectativa
dos procuradores, mas ainda assim, são abrangentes”.
Não é preciso queimar a mufa para entender o que significa
que “estão um tom abaixo da expectativa dos procuradores”, não é? Não tem
acusação direta ao ex-presidente.
Jaílton, porém, menciona no texto que está na delação
ninguém menos que o atual presidente da República, Michel Temer. Lá embaixo, no
pé da matéria, sem direito a chamada, mas está:
Na fase preliminar das negociações do acordo, Marcelo
Odebrecht e outros executivos citaram pelo menos 130 deputados, senadores e
ministros e 20 governadores e ex-governadores. Entre os nomes citados estão o
do presidente Michel Temer, e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), José
Serra (Relações Exteriores) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo).
Também foram mencionados o ex-ministro Antonio Palocci (que
assumiu a Fazenda na gestão do ex-presidente Lula e a Casa Civil no governo
Dilma Rousseff) e Guido Mantega (Fazenda, nos mandatos de Lula e Dilma).
Executivos também relataram pagamentos indevidos ao ex-deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que está preso desde semana passada em Curitiba.
A menção ao Presidente da República é apenas um detalhe que,
certamente, não vem ao caso.
O Globo, porém, não se deu por achado.
“Enxertou” Lula na manchete do jornal, servindo-se de uma
“convicção” de um delegado de polícia de que ele seria o “amigo” citado em
documentos apreendidos na empreiteira.
Também lá no final, a ressalva que não salva, mas apenas
atesta a irresponsabilidade com que as coisas são tratadas:
Desde o início da Lava-Jato, a PF errou pelo menos uma vez a
interpretação dos nomes da mesma tabela onde agora identifica Lula como o
“amigo”. Os investigadores sustentavam que as menções a valores para JD seriam
pagamentos para José Dirceu. Com o avanço das investigações, passaram a
sustentar que se tratava de Juscelino Dourado, assessor de Palloci.
comentário
No jornalismo de guerra que a imprensa faz contra Lula, é
assim. Tortura-se os fatos até que eles digam o que se quer publicar. E, se não
disserem, enxerta-se.
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