Por Ayrton Centeno
A imprensa não confia na nossa memória e, diariamente, nos
informa que o pecuarista José Carlos Bumlai é o “amigo de Lula”. Fez ontem, faz
hoje e, por certo, fará o mesmo amanhã. E depois e depois e depois. É
inescapável. Talvez Bumlai tenha que incorporar a expressão ao seu sobrenome.
– Bumlai? O amigo de Lula?, indaga o escrivão no cartório.
– Isso mesmo. Ponha aí depois do Bumlai senão ninguém mais
irá me reconhecer. Dirão que sou um falso Bumlai, um Bumlai qualquer.
Pela vida afora, Bumlai repetirá personagens também
perseguidos pelo seu apodo. Seguirá conduzindo de arrasto as três palavras,
como uma cauda de vestido de noiva, um rabicho ostentatório. Após Alexandre, o
Grande, Felipe, o Belo e Houdini, o Homem Miraculoso haverá Bumlai, o Amigo de
Lula.
Nem a morte evitará o destino. “Morreu Bumlai, o amigo de
Lula” estará nas capas, quem sabe em título discreto ao pé nas páginas internas
ou, se não houver mais nenhum interesse na figura e na sua amizade com Lula, no
necrológio. Comovida, a família mandará gravar no mármore eterno “Aqui jaz
Bumlai, o amigo de Lula”.
Se for de morte morrida, haverá boataria de que morreu de
desgosto. “Estava no ostracismo, abatido, na pior. Sua mágoa era que ninguém
mais o chamava de amigo de Lula”, dirá um parente aos repórteres. No dia
seguinte, o país saberá que “Família acusa Lula de esquecer Bumlai, seu amigo”.
Se for de morte matada, em seguida seremos informados de que “Lula é suspeito
da morte de seu amigo Bumlai”.
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