Nos primórdios os poucos habitantes aqui existentes bebiam
água brotada dos Olhos D´Água na fazenda de Domingos Barbosa e Ana Brandão e
dos minadouros e tanques.
Com o aumento da população a água passou a ser carregada em
potes ou em barris no lombo dos animais e vendida a domicilio.
Este comércio era feito com dois tipos de água:
A água de beber, extraída de fontes especiais como a Fonte
do Mato e era vendida mais cara.
A outra, a água de gasto, geralmente retirada do Tanque da
Nação, onde os animais matavam a sede e as mulheres lavavam roupas, era vendida
mais barata.
Mesmo após ser elevada a categoria de cidade, no século XIX,
os habitantes continuaram bebendo água das fontes existentes.
Durante a primeira metade do século XX período em que a cidade teve como governantes
os intendentes da Velha República, os prefeitos da Nova Republica e os
interventores e prefeito dos últimos
anos do Estado Novo e os primeiros da
Redemocratização, a população ainda era abastecida com água captada em
cisternas e poços cavados no quintal das casas.
Somente a partir da segunda metade do século XX a população
conheceria avanços no sistema de abastecimento do precioso líquido.
Tudo começou com as eleições gerais de 1950, quando Getúlio
Vargas, ex-presidente e de novo candidato a presidência aqui esteve em campanha
eleitoral.
Vale frisar que o Getulio Vargas foi recepcionado na
residência do coronel José Pinto, pai do jovem Francisco Pinto, que na mesma
eleição foi eleito vereador.
No comício realizado
na Praça João Pedreira, ao lado do
candidato a prefeito Almáchio Boaventura, na recepção na residência do coronel
José Pinto e na rápida parada no distrito de Humildes, Getulio Vargas disse que
se fosse eleito dotaria o povo feirense de água encanada.
Chegou a detalhar, com base nas informações passadas pelas
lideranças locais, que a água seria captada da Lagoa Grande, nas proximidades
do subúrbio de Santo Antonio dos Prazeres.
Eleito, inclusive com expressiva votação nesta cidade, onde
venceu o candidato Eduardo Gomes,
Getulio recebeu no Rio de Janeiro,
cidade sede do governo federal, uma comissão da câmara municipal formada
pelos vereadores Francisco Pinto, Wilson Falcão e Antonio Araújo.
Durante a audiência, os vereadores cobraram o compromisso
que o então candidato havia assumido em praça pública. O presidente não só
reafirmou como delegou poderes ao baiano Ernesto Simões Filho, que era Ministro
da Republica, para tomar todas as medidas necessárias.
Logo as obras foram iniciadas, consequentemente durante a
administração do prefeito Almachio Boaventura, do mesmo partido do presidente.
Sobre este fato inconteste, muitos ainda recordam que foi
nesse tempo que se instalou na cidade dois gigantes reservatórios, na época
conhecidos como “caixa d’água”.
Um no antigo “Pilão sem tampa” (na foto o prefeito
inspecionando a obra), outro no Alto do Cruzeiro, na área onde foi
construída a Escola Municipal Cícero Carvalho.
Com a trágica morte de Getúlio, em 24 de agosto de 1954, os
trabalhos foram interrompidos. Mas por se tratar de uma obra da maior
importância, ela foi retomada assim que Juscelino Kubitschek, eleito
presidente, assumiu o poder.
Obra concluída, em janeiro de 1957 o presidente “bossa nova” veio a Feira de
Santana para a grande festa de inauguração.
Chegou acompanhado do governador Antonio Balbino, do seu
chefe da Casa Militar, o general Nelson de Mello e outras autoridades e foi
recebido e recepcionado por João Marinho Falcão, que era o prefeito da cidade.
Aquele avanço, no caso a água encanada oriunda da Lagoa
Grande no começo abastecendo as caixas e
a partir delas chegando às torneiras das residências, através do Serviço
Autônomo Municipal de Água, perdurou até o final dos anos 60.
Nessa década, novamente através da União, por influência de
Luiz Vianna Filho, atendendo apelos do prefeito João Durval, foi implantado em
Feira de Santana o Sistema de Abastecimento de Água do Rio Paraguaçu.
No começo da década de 70, mais precisamente numa
quinta-feira, 25 de fevereiro de 1971, aconteceu a inauguração oficial, com
direito a torneira jorrando água na mesma Praça João Pedreira, que em 1950
ouviu Getulio Vargas prometer o primeiro serviço de água.
Além do governador Luiz Viana, em fim de mandato e outras
autoridades estaduais e municipais, o ato trouxe a Feira de Santana o General
Costa Cavalcante, Ministro do Interior, que representou o Governo Federal.
Dirigia a cidade e consequentemente foi o responsável pela
recepção as autoridades, o prefeito Newton da Costa Falcão, filho do mesmo João
Marinho Falcão, que era o prefeito em 1957, quando houve a inauguração da
primeira água encanada.
Assim que o novo sistema foi implantado, sob o comando da
SESEB mais tarde transformada em EMBASA, a propaganda oficial e as lideranças
políticas locais propagaram que a Feira de Santana, até o ano 2000, não teria
problema de abastecimento de água.
A previsão não se confirmou, pois pouco tempo depois, ainda
nos anos 80 a população já estava a exigir melhoria no serviço.
Não houve exagero na propaganda prevendo água em abundância
até a virada do século. Na verdade a propaganda é que terminou sendo atropelada
pelo surto de progresso e desenvolvimento que Feira de Santana começou a
experimentar exatamente a partir dos anos 70.
Tanto que de 1971 quando o novo e moderno sistema foi
oficialmente inaugurado, até os dias atuais, todos os governadores baianos, uns
mais outros menos, estão sempre promovendo a ampliação do sistema.
Mesmo assim, a cada estação verão – e este ano não tem sido
diferente, é grande a reclamação da população contra a falta do precioso
liquido nas torneiras, tanto no centro como na periferia.
Aqueles que moram mais distantes, em localidades aonde a
água encanada ainda não chegou, na zona rural em especial, enfrentam neste
período do ano, um cenário pior do que aquele vivido pelos nossos antepassados,
pois ao contrário do que ocorria nos primórdios, nos dias atuais os tanques,
poços, fontes e cacimbas também estão sempre secos.
Por isso, ainda que
seja justo insistir na cobrança de providencias a quem de direito, faz melhor
quem souber economizar o precioso liquido neste período de clima ardente.
(Adilson Simas)
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