Por Milton Hatoum
Pescamos aracus e oranas, e devolvemos às águas do Negro os
filhotes de matrinxã e piranha-caju. Se fossem piranhas crescidas, dariam uma
deliciosa caldeirada com pirão apimentado.
As crianças, impressionadas com as piranhas, perguntaram se
eram perigosas.
“Assim miudinhas, não”, disse Absalão. “Quer dizer, se tiver
sangue na água, aí até essas miúdas atacam.”
Já escurecia quando guardamos os caniços; depois Absalão foi
limpar os peixes. Nosso barco estava atracado numa ilha do Negro, uma das
centenas de ilhas que surgem no verão e sobrevivem até março ou abril, quando
são cobertas pela enchente e o rio torna-se um mundo de águas escuras e nem
sempre espelhadas.
Só às oito da noite vi na popa do barco um rastro de sangue
que sumia na escadinha que conduz ao porão das máquinas. Desci para saber o que
tinha acontecido.
“Tava amolando as facas e vacilei”, lamentou Absalão
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