Por Gregorio Duvivier
da Folha
Desconfio de quem se diz contra a corrupção. A razão é:
ninguém é abertamente a favor da corrupção
"Chega. Não quero nunca mais tocar neste assunto de
petróleo. Amargurou-me doze anos de vida, levou-me à cadeia --mas isso não foi
o pior. O pior foi a incoercível sensação de repugnância que desde então passei
a sentir sempre que leio ou ouço a expressão 'Governo Brasileiro'"¦".
Em 1936, Monteiro Lobato escrevia "O Escândalo do
Petróleo", em que denunciava a corrupção do Serviço Geológico Nacional
--quase 20 anos antes da criação da Petrobras. Foi preso e sua prisão o levou à
falência, da qual nunca se recuperou. Morreu aos 66 anos.
Nos anos 90 foi a vez de Paulo Francis denunciar a corrupção
da estatal e morrer afundado em dívidas decorrentes do processo.
"Para acabar com a corrupção é preciso varrer o PT do
país", disse Aécio Neves (PSDB), que pelo visto acredita piamente na
idoneidade do PP, do PR, do DEM, do PMDB. Um dos problemas da oposição é que
ela superestima o PT. O PT não inventou nem o Bolsa Família (salve Cristovam
Buarque), principal bandeira do partido --imagina se teria inventividade para
inaugurar a corrupção.
Bradar contra a corrupção é a forma mais rápida de se eleger
no país. Foi essa bandeira que elegeu, entre outros, Fernando Collor de Mello
--o "caçador de marajás". Collor não tinha história nem ideologia,
tinha só a fama --bancada pelos principais meios de comunicação-- de guardião
da moralidade.
Desconfio de qualquer pessoa que se diga contra a corrupção.
A razão é uma só: ninguém é abertamente a favor da corrupção, logo não faz
sentido protestar contra ela. Um protesto sem oposição é um protesto
chapa-branca, porque não atinge ninguém diretamente. É como protestar contra o
câncer. "Abaixo o carcinoma!"
O câncer não tem bancada no Congresso. Protestar contra ele
não vai ofender ninguém. É preciso atacar o amianto, o glutamato monossódico,
os agrotóxicos e as tantas substâncias cancerígenas defendidas por muita gente
e consumidas por todos nós.
A corrupção no Brasil é permitida e incentivada pela lei --e
a lei não deve mudar tão cedo. Quem poderia mudar a legislação é quem mais
lucra com ela. Não é de se espantar que Eduardo Cunha (PMDB) --o
homem-amianto--, que arrecadou (declaradamente) milhões de mineradoras, faça
tudo para impedir um novo código da mineração e o fim do financiamento privado
de campanha. Enquanto os políticos forem eleitos por empresas, vão continuar
governando para elas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário