Por Fernando Brito
Começo o dia lendo a coluna de Ricardo
Noblat, em O Globo, espantado
em como o “estilo Veja” de jornalismo mediúnico –
e grosseiro – passou a ser uma regra na imprensa brasileira.
Noblat conta histórias “em detalhes”
sobre encontros privados de Dilma e um “presidente de uma entidade financeira
estatal”:
“Cale a boca. Cale a boca agora. Você tem
50 milhões de votos?”
Ao ler, ocorreu-me: que tipo de
“presidente de uma entidade financeira estatal”
ouviria um “cale a boca” sem, ato contínuo, pedir as contas e ir embora?
E será que alguém que ouvisse isso,
murchasse as orelhas e seguisse no cargo ia contar a “proeza” de ter sido assim
humilhado?
No máximo de boa-vontade com Noblat, para
o caso de ele ter conversado mesmo com um masoquista deste jaez, é de presumir
que – tratando-se de pessoa de tão pouco caráter assim – possa simplesmente ser
uma mentira.
Depois, descreve algo semelhante
envolvendo o próprio Lula, desta vez com interlocutores identificados: José
Dirceu, Gilberto Carvalho e Luís Gushiken.
Consegue o distinto leitor e a cara
leitora imaginar um dos três procurando Noblat para contar-lhe como foram
“escovados” por Lula, já presidente da República?
Depois, diz que “Lula não perdoa Dilma
por ela não ter cedido a vez a ele como candidato no ano passado”.
Mesmo, Noblat?
Lula lhe disse isso?
Ou foi a Marta Suplicy?
Ou os “espíritos”?
Se Lula, de fato, quisesse ser candidato,
estava aí mesmo o “Volta, Lula” para embalá-lo e ninguém que conheça o PT pode
sequer imaginar que Dilma teria forças para resistir a esta pretensão do
ex-presidente.
Afora o “modo Chico Xavier” de apurar
diálogos, Noblat incorre no caminho da grosseria, algo de que os comentaristas
políticos, até por necessidade de manter diálogo em todas as áreas, fogem.
Falo dos comentaristas políticos, não dos
propagandistas da direita feroz, no padrão Arnaldo Jabor e Reinaldo Azevedo.
Mais grave ainda porque Noblat deveria
guardar o exemplo de Carlos Castello Branco, que conheceu no velho Jornal do Brasil, e que, por qualidade
de texto e por ter modos, jamais escreveria frases de pretensão divina como as
que ele escreve hoje.
“(Lula) procede assim por defeito de caráter”
“(Lula) agora (é) um milionário lobista
de empreiteiras”
Em que Noblat se converteu, em Sérgio
Moro de um tribunal de caráter?
Mas há algo que é verdadeiro no que ele
escreve, o fato de Lula ser uma ameaça.
Não à democracia, como afirma, sem
maiores explicações.
Mas a algo que a prepotência açula e o
farisaísmo dissimula.
À ditadura da mídia, com sua monocórdia
voz, a dizer quem e o que serve para o Brasil.
Falta só arranjar um chapéu para o
Noblat.
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