(*)Por Osvaldo Ventura
Em estado comatoso, o berço da democracia
respira por aparelhos. Isso desde 2010, por ter sofrido um golpe de estado
financeiro, ou seja, quando teve sua soberania violentada e seu povo dominado e
vilipendiado pelo capital rentista. Tudo em nome do neoliberalismo engendrado
no famigerado Consenso de Washington.
Diferentemente do clássico golpe a manu militari, no qual se depõem
governantes e se enfrenta as reações com baionetas e balas de metralhadoras, o
golpe de estado financeiro age de forma “civilizada”. Sem disparar um tiro,
invade os Estados Nacionais com sua devastadora política de austeridade,
destruindo por asfixia a economia e matando literalmente seus povos. É o
clássico receituário neoliberal empurrado goela abaixo dos países que tiveram a
desdita de necessitar de empréstimos externos de estados soberanos ou de
organismos multilaterais.
Decorrido quase meio século, a teoria de que “o livre mercado”, por si
só, iria regular as relações econômicas, transformou-se na maior e mais
perversa concentração de renda da história da humanidade. Ameaçando a
convivência pacífica da civilização.
É pura falácia, também, que “o crescimento é como a maré alta: levanta
todos os barcos”. Isso porque a renda produzida pelo crescimento somente será
distribuída de maneira menos injusta se houver regulação estatal.
O neoliberalismo nada mais é do que o salve-se quem puder. Sem regras,
sem limites, acumulou rendas de tal ordem que está se tornando autofágico. O
excesso de capital financeiro está matando o próprio capitalismo. Pois, como se
sabe, o rentismo não produz um só alfinete; quando poderia estar produzindo
bens de capital.
Por ironia da História, a Grécia, onde se originaram as primeiras
concepções sobre um regime democrático, sofre hoje verdadeira ditadura imposta
pelo poder externo e incontrastável do
capitalismo mundial em sua fase mais deletéria.
Durou pouco a esperança de que a nação helênica saísse dessa situação
aflitiva, com a eleição do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. Não foi o
bastante.
A “banca mundial” do rentismo, atualmente ancorada na Alemanha, não
aceitou a proposta do governo de Tsipras. Prolongou sua agonia. Deu-lhe, então,
quatro meses de prazo para que o plano dos banqueiros fosse reavaliado e
aceito. Do contrário...
Sem a necessária correlação de forças, ou Tsipras aceita o acordo ou o
rentismo “lhe tira o tubo”.
(*) Advogado, escritor
Membro da Academia
Feirense de Letras
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