terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

TIRO NO PÉ

Por  Osvaldo Ventura
Membro da Academia Feirense de Letras

A crise arquitetada pelas forças conservadoras que “suicidaram” Getúlio Vargas está de volta.
Evidência de que para o conservadorismo brasileiro o “sacrifício” de Vargas não serviu de exemplo.
Vargas foi defensor das riquezas nacionais e da melhoria das condições de vida dos mais carentes. Verdadeiras heresias para a bíblia entreguista e burguesa dominante desde sempre nas terras de Cabral. Mesmo que depois, fosse cognominado de pai dos pobres e mãe dos ricos.
 Mas a burguesia tem uma garganta pantagruélica. Melhor seria se ele fosse somente pai e mãe dos ricos. Não foi. Continuou contrariando interesses. Nacionais e internacionais.
A mídia, naquela época chamada apenas de imprensa, se encarregou do resto. E escalou o competente jornalista e ex-comunista Carlos (O Corvo) Lacerda para liquidar a fatura.
O Corvo sofreu uma tentativa de morte, perpetrada pela Guarda do Catete, que lhe atingiu o pé e fulminou seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz.
Com o falso intuito de apurar a morte do major, Lacerda e a Aeronáutica instituíram a tristemente célebre República do Galeão, pisoteando a Constituição Federal e estuprando o Estado Democrático de Direito. 
Dezenove dias depois do atentado, Lacerda já estava em marcha batida para tomar o Catete, quando Getúlio Vargas “virou o jogo”, com um tiro no peito.
O projétil disparado pelo presidente ricocheteou e atingiu em cheio o coração das forças golpistas. E a carta deixada pelo presidente, intitulada Carta Testamento, despertou a consciência dos filhos daquele tido e havido como pai inestimável.
O povão foi para as ruas chorar a morte de seu “pai” e julgar os responsáveis. Ninguém foi encontrado.
Pelo menos, o golpe foi adiado por dez anos.    
Getúlio Vargas deu um tiro no coração. Antes, porém, a burguesia golpista transformara o tiro no pé de Lacerda, em um tiro no seu próprio pé ao assumir o premeditado golpe.  
Marx disse que “A história acontece primeiro como tragédia, depois se repete como farsa”. 
No atual momento histórico, a mídia corporativa procura criar um clima de caos no Brasil para justificar o golpe.
É o começo da farsa. Encenada por figuras menores sem a verve, a ousadia e a competência do tribuno Carlos Frederico Werneck de Lacerda.  
Se na poesia “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, na política, em determinadas circunstâncias, a recíproca é verdadeira.
Por isso, caso prospere o intento golpista, será mais um tiro no pé.    

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