(*) Osvaldo Ventura
“Criança que brinca
com fogo faz xixi na cama”. Este adágio desestimula crianças de se aproximarem
de qualquer matéria em combustão. É também uma metáfora.
Como tal, pode ser
aplicado ao momento histórico que atravessa nosso país. No qual, atualmente, existe muita gente
grande brincando com fogo.
Sim, porque se
sabe a maneira de começar um golpe, mas, não se tem a menor ideia de como ele
irá terminar.
O processo
golpista é de uma crueldade bestial. Como determinados animais selvagens,
por questão de sobrevivência, não
hesita em devorar seus próprios filhos.
O golpe de 1964 é
pródigo em exemplos.
Até então no
nascedouro, os grandes articuladores do “movimento” foram devorados pela fúria
dos golpistas mais radicais. Daí para a ditadura foi um piscar d’olhos.
E deu no que
deu.
A massa crítica
formada pela sociedade brasileira durante os “anos de chumbo” contribuiu para o
fortalecimento do Estado Democrático de Direito.
Hoje, no entanto,
parece ter sucumbido ao terrorismo da mídia corporativa.
Criou-se um caos
midiático, um apocalipse meramente virtual. O Brasil real sumiu!...
Ainda que as
instituições dos três poderes se encontrem em pleno funcionamento.
Ainda que as
classes produtoras não registrem qualquer colapso.
Ainda que o sistema de transporte esteja em
perfeita regularidade.
Ainda que a
segurança pública seja precária, mas exista.
Ainda que o ENEM
esteja abarrotando de jovens as Universidades brasileiras.
Ainda que a
universalização da saúde seja a melhor de todos os países emergentes.
Ainda que as
políticas públicas tenham retirado trinta milhões de pessoas da pobreza.
Ainda que o
sistema bancário seja um dos mais vigorosos do mundo.
Ainda que o
agronegócio esteja batendo recordes anuais de produção e produtividade.
Ainda que a
liberdade de imprensa não tenha sofrido um arranhão.
Sendo assim, todo cuidado é pouco. Na democracia pode-se
pedir ditadura; mas na ditadura não se pode pedir democracia.
Membro da Academia Feirense de Letras
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