Por Luis Nassif
O ano não promete ser fácil.
Na política econômica, o pacote de maldades do Ministro da
Fazenda Joaquim Levy impactará a atividade econômica e o emprego. O
realinhamento de tarifas afetará os preços. Quando vier para valer, a falta de
água em São Paulo, criará um clima insuportável. A Lava Jato manterá elevada a
temperatura política e afetará a produção industrial e as obras de
infraestrutura.
***
Por tudo isso, só pode se entender como marcha da insensatez
o apoio incondicional dado pelos grupos de mídia à candidatura de Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) à presidência da Câmara. Para a mídia, Cunha tornou-se um novo sir
Galahad, em substituição ao pio ex-senador Demóstenes Torres.
Por várias razões, é uma jogada de alto risco.
Do lado político, por ser um fator a mais de
ingovernabilidade.
Do lado ético, por desnudar de forma implacável os chamados
princípios morais da mídia. Veja aliou-se ao bicheiro Carlinhos Cachoeira;
alçou o ex-senador Demóstenes Torres à condição de paladino da moral e dos bons
costumes; blindou todas as estripulias do Ministro Gilmar Mendes, do STF
(Supremo Tribunal Federal); escondeu todos os malfeitos de José Serra.
Mas todos esses episódios foram cometidos nos bastidores.
***
Mas, Eduardo Cunha?! Cunha começou sua vida pública aliado
de PC Farias, e foi processado como tal. Depois, assumiu um cargo na companhia
habitacional do Rio, no governo Garotinho, e foi acusado de desvios. Teve
envolvimento direto com uma quadrilha que fraudava ICMS em distribuidoras de
gasolina.
Na Câmara, seu trabalho diuturno foi articular lobbies de
grandes grupos. Nas últimas eleições, financiou a candidatura de dezenas de
deputados, com recursos repassados por grupos econômicos com a finalidade única
de fazer negócios.
Cunha é a definição impura e acabada do parlamentar
negocista – aquele contra quem o moralismo da mídia deblatera dia e noite.
***
E o que se pretende com esse apoio? Apenas o desgaste do
governo. O governo Dilma não precisa de ajuda para se desgastar: sabe se
desgastar sem a ajuda de ninguém.
No campo dos negócios, os grupos de mídia nada conseguirão,
apenas piorar mais ainda o mercado publicitário.
O governo Dilma já mostrou que não retalia críticos com
cortes de publicidade; mas também não cede a chantagens nem entra em
negociatas.
Pode ser que pretendam, através do Congresso, barrar a
entrada dos grandes competidores estrangeiros, aprovar leis que reduzam a
obrigatoriedade de capital nacional na mídia, conquistar outra anistia fiscal
para suas dívidas.
Não conseguirão. De um lado, porque a Câmara não faz
política econômica. De outro, porque acumularam tal quantidade de inimigos com
o estilo metralhadora giratória que jamais conseguirão montar uma frente
pró-mídia.
Frente anti-PT e anti-governo é simples de montar.
Pró-mídia, ainda mais em uma fase de crise econômica, impossível.
***
O que e conseguirá com o fator Eduardo Cunha será uma pitada
a mais de desmoralização da mídia, mais insegurança econômica – revertendo em
menos publicidade – e a confirmação de que jornais não foram feitos para pensar
estrategicamente: eles sabem apenas “causar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário