por Graça Lago, no Facebook,
Explicando definitivamente – tenho 63 anos, 50 de militância
política e 46 de jornalismo. O prêmio com o nome de papai foi instituído em
2002, ano em que morreu, e parecia uma homenagem bacana à memória dele. Nada
grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma
emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear
artistas, principalmente atores.
Nada especial, mas que poderia manter a sua lembrança viva.
Bacana. Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente
emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o
prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz
e pessoa de Laura Cardoso.
Durante todos esses anos, o prêmio se manteve em um patamar
honesto, com homenagens a diferentes artistas. Ainda que não concordasse com um
ou outro, nenhum ofendia a memória de papai; nem na escolha e nem na cerimônia,
é importantíssimo registrar.
Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e
instrumentalizado (como quer o bonner) para fazer da premiação um ato político,
de defesa das orientações facciosas da globo e de seu principal (embora
decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as
críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo.
Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. A
começar, o Bonner não é um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os
fatos. O evento virou um circo de elogios instrumentalizados. Enaltecer a
“imparcialidade” com que ele e sua parceira conduziram as entrevistas com os
presidenciáveis é esquecer que ele não deu espaço para uma só resposta de Dilma
Rousseff; é esquecer que ele e sua parceira ocuparam mais da metade do tempo
estipulado para a entrevista com a presidenta. É esquecer que esse tratamento
não foi dedicado a qualquer outro entrevistado. É esquecer que, mesmo no auge
das denúncias sobre os escândalos dos aeroportos de Cláudio e Montezuma, o sr.
Aécio não foi pressionado nem um terço do que foi Dilma Rousseff para explicar
os flagrantes delitos dos empreendimentos. É esquecer que, mesmo frente às
denúncias da ilegalidade do jato de Eduardo Campos, a sra. Marina não teve
qualquer questionamento contundente (e viajava, sim, no jato). Isso para não
falar de mil e outros atos de atentado à informação praticados no JN, como bem
foi demonstrado pelo laboratório da UERJ.
E não parou aí. Ouvir o bonner criticar as redes sociais
revirou o meu estômago. Ouvir o bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de
robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia.
Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de
uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger com
a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito, nem nunca
terá.
Se a intenção foi política, politicamente me manifestei.
Não poderia ouvir calada todas essas imensas ofensas à
memória de meu pai. Mário Lago era um homem político, e assim se manifestava e
comportava cotidianamente. Não aceitaria, jamais, ser manipulado por
excrecências como essa. Vi meu pai recusar propagandas bem remuneradas por
discordar politicamente delas. Sempre trabalhou e ganhou o seu salário com a
maior decência.
Por sua postura, mereceu a admiração e o respeito até de
homens como Roberto Marinho. No final dos anos 60, o Exército informou à Globo
que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército.
Seria uma maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua
biografia. Roberto Marinho recusou o pedido, justificando da seguinte forma:
“se o Mário recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o
respeito por ele”. Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia
do meu pai. A isso digo não e me manifesto publicamente sobre a imensa farsa
montada nesta premiação ao jornalismo mais instrumentalizado e faccioso deste
país. (Blog do Azenha)
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