segunda-feira, 10 de novembro de 2014

APESAR DA CAMPANHA DA MÍDIA, O ENEM VENCEU

Luis Nassif

Um estilo jornalístico viciado e anacrônico é o principal responsável pelas dificuldades do país em trilhar novas experiências.
Em um Congresso de Secretários do Planejamento, cobrei dos secretários presentes a falta de empreendedorismo público, de novas experiências de gestão.
A resposta foi simples.
Na fase de implantação de novos projetos não há como não aparecerem problemas. Afinal, trata-se da implantação. Qualquer problema é superestimado pela mídia, utilizado para torpedear o projeto. Alguns projetos acabam morrendo no caminho por esta falta de compreensão. Depois de implantados, os projetos vitoriosos não merecem o reconhecimento.
O gestor público corre um enorme risco propondo o novo, sem nenhuma possibilidade de recompensa posterior: o reconhecimento público.
Tome-se o caso do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Em 2009, com sua universalização, começando pela unificação dos vestibulares das universidades federais, mudou a face dos vestibulares no país, democratizando o acesso de todos os estudantes a vestibulares nas melhores faculdades.
Ontem foram completadas as provas, com 6,2 milhões de inscritos, um caso de sucesso mundial. A não ser alguns episódios isolados de cola, não houve um problema sequer relatado por uma mídia capaz de superdimensionar os menores problemas.
O ENEM tornou-se uma instituição nacional. Junto com a expansão das novas universidades públicas e privadas, mudou a cara do ensino superior. Onde estão os velhíssimos capitães de ensino, que dominavam politicamente o setor e, com suas intermináveis páginas de publicidade, exerciam um poder absurdo sobre a mídia? Onde Di Gênio e outros símbolos de um velho modelo carcomido? Foram engolfados pela modernização e pela entrada de novos grupos no mercado.
No entanto, esse enorme avanço quase foi liquidado por uma campanha implacável da mídia, onde se misturaram má fé, incompreensão e jogadas políticas de baixo nível.
Problemas de vazamento de uma prova - em uma gráfica que tem a Folha como sócia -, problemas pontuais com um ou outro simulado, afetando proporções ínfimas dos inscritos, foram superdimensionados, abriu-se todo o espaço para um procurador exibicionista, tudo com a intenção de liquidar o programa.
Não se pensou nos benefícios para o país, para os alunos, nas oportunidades que se abriam com a democratização do acesso às vagas. A ideia fixa era impedir que seu eventual sucesso pudesse ser capitalizado pelo governo que o bancou.

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