Por Luis Nassif
1. TODOS os grupos
de mídia fizeram a mesma cobertura negativa da Copa, com os mesmos tons de
cinza, o mesmo destaque às irrelevâncias, prejudicando seu próprio departamento
comercial pelo desânimo geral que chegava aos anunciantes.
2. NENHUM grupo
preparou uma reportagem sequer mostrando os detalhes de uma organização
exemplar, que juntou governos federal, estaduais, municipais, Ministério
Público, Tribunais de Conta, Polícia Federal, Secretarias de Segurança,
departamentos de trânsito, construtoras, fundos de investimento. NENHUM!
3. Depois, TODOS
fazem o mea culpa e passam a elogiar a Copa no mesmo momento.
4. Na CPMI de
Carlinhos Cachoeira TODOS atuaram simultaneamente para abafar as investigações.
5. Na do “mensalão”,
TODOS atuaram na mesma direção, no sentido de amplificar as denúncias e esmagar
qualquer medida em favor dos réus, até as mais irrelevantes.
6. Na Operação
Satiagraha, pelo contrário, TODOS saíram em defesa do banqueiro Daniel Dantas,
indo contra a tendência histórica da mídia de privilegiar o denuncismo.
7. No episódio
Petrobras, TODOS repetiram a mesma falácia de que a presidente Maria da Graça
disse que foi um mau negócio e o ex-presidente José Sérgio Gabrielli disse que
foi bom negócio. O que ambos disseram é que, no momento da compra, era bom
negócio; com as mudanças no mercado, ficou mau negócio. TODOS cometeram o mesmo
erro de interpretação de texto e martelaram durante dias e dias, até virar
bordão.
8. No anúncio da
Política Nacional de Participação Social, TODOS deram a mesma interpretação
conspiratória, de implantação do chavismo e outras bobagens do gênero, apesar
das avaliações dos próprios especialistas consultados, de que não havia nada
que sugerisse a suspeita. Só depois dos especialistas desmoralizarem a tese,
refluíram - com alguns veículos ousando alguma autocrítica envergonhada.
É um cartel, no sentido clássico do termo.
Uma empresa jornalística que de fato acredite no seu mercado
jamais incorrerá nos seguintes erros:
1. Trabalhar sem
nenhuma estratégia de diferenciação da concorrência, especialmente se não for o
líder de mercado. A Folha tornou-se o maior jornal brasileiro, na década de 80,
apostando na diferenciação inteligente.
2. Atuar
deliberadamente para derrubar o entusiasmo dos consumidores e anunciantes em
relação ao seu maior evento publicitário da década: a Copa do Mundo.
3. Expor de tal
maneira a fragilidade do seu principal produto – a notícia -, a ponto de
municiar por meses e meses seus leitores com a versão falsa de que tudo daria
errado na Copa e, depois, ter que voltar atrás. Em nenhum momento houve uma
inteligência interna sugerindo que poderia ser um tiro no pé. Ou seja,
acreditaram piamente nas informações falsas que veiculavam - a exemplo do que
ocorreu com a maxidesvalorização de 1999.
4. Nos casos
clássicos de cartel, um grupo de empresas se junta para repartir a receita e
impedir a entrada de novos competidores. No caso brasileiro, a receita
publicitária cada vez mais é absorvida pelo líder – a Globo – em detrimento dos
demais integrantes do grupo. Para qualquer setor organizado da economia, essa
versão brasileira de cartel será motivo de piada.
Tudo isso demonstra que há tempos os grupos de mídia
deixaram de lado o foco no mercado e no seu público. Não se trata apenas da
perda de espaço com a Internet. Abandonaram o produto principal – a
confiabilidade da notícia – para atuar politicamente, julgando estar na
política sua tábua de salvação.
A sincronização de todas as ações, em todos os momentos,
mostra claramente que existe uma ação articulada, centralmente planejada. Visão
conspiratória? Não. Provavelmente devido ao
fato de não existirem mais os grandes capitães de mídia, capazes de
estratégias inovadoras individuais. Assim, qualquer estrategista de meia pataca
passa a dar as cartas, por falta de interlocução à altura em cada veículo.
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