Coincidência ou derrapada? Trabalhando até agora em silêncio, presidenciável Aécio Neves sofreu revés com o vazamento de sua articulação para ter Henrique Meirelles, ex-Banco Central, como vice; nota na coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, irritou ex-governador José Serra, que avisou estar fora das cogitações; ex-prefeito Gilberto Kassab, do PSD, também não gostou de saber pelo jornal sobre aproximação com seu correligionário, o que abre espaço para Tasso Jereissati como vice; dona do furo, jornalista Vera Magalhães é casada com Otavio Cabral, que está deixando de ser editor da revista Veja para assumir assessoria de comunicação de Aécio; colunista Mônica Bergamo, na mesma Folha, registrou que plano teve de ser arquivado por publicidade inconveniente; colunista Juliana Duailibi confirmou que Cabral virou mesmo assessor tucano; ele teria falado demais?
19 DE MAIO DE 2014 ÀS 22:05
247 – A campanha eleitoral do presidenciável Aécio Neves
corria sem sobressaltos até o último final de semana. Em alta nas pesquisas e
com seu partido pacificado, ele se dedicava, em silêncio, a dois movimentos
simultâneos. De um lado, convidou o jornalista Otávio Cabral, da revista Veja e
autor de uma polêmica biografia do ex-ministro José Dirceu, para ser o chefe de
sua equipe de assessoria de imprensa e comunicação. Representaria, ao mesmo
tempo, uma provocação ao PT e um afago na editora Abril, dona de Veja. Parecia
não haver contra-indicações.
Ao mesmo tempo, numa operação bem mais complexa e
estratégica, Aécio resolveu executar uma ideia que lhe pareceu brilhante.
Interessado, desde sempre, em fazer uma coalizão partidária ampla para aumentar
suas chances, o senador aproximou-se, com extrema discrição, do ex-presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles. Filiado ao PSD, Meirelles, fez saber
Aécio, tornou-se o sonho de consumo do ex-governador mineiro para o cargo de
seu companheiro de chapa.
Os dois movimentos poderiam ter dado certo, mas agora
desconfia-se que o primeiro gesto ajudou a travar o segundo. Ou terá sido
apenas coincidência? O fato é que no mesmo período em que Cabral iniciava seu
trânsito pelos bastidores da campanha tucana, o segredo do assédio político
sobre Meirelles se esfarelou. E logo pela coluna Painel, do jornal Folha de S.
Paulo, que publicou nota no domingo 18 cravando o que ninguém até ali sabia.
Mais precisamente, o interesse total e irrestrito de Aécio em ter Meirelles
como seu vice. O Painel é assinado pela jornalista Vera Magalhães. Ela é casada
com o agora ex-repórter Otavio Cabral, novo titular da comunicação da campanha
Aécio 2014.
SEM DEFESA - O 'furo' do Painel deixou Aécio indefeso. O
ex-governador José Serra, com quem ele já desenvolvia um diálogo difícil, foi à
luta em sua página no Facebook. Como reflexo direto da procura de Aécio por
Meirelles, Serra sepultou qualquer chance de deixar evoluir seu próprio nome
como alternativa do PSDB ao cargo de vice. "Isso é coisa do jornalismo
criativo", desqualificou Serra, que, no entanto, ainda contava com um
convite de Aécio para sair do seu atual ostracismo político. Após saber que o
nome número 1, para o tucano, é o do pessedista Meirelles, Serra excluiu-se da
fila, nada interessado em poupar o ex-governador mineiro do desgaste que a
negativa acarreta.
A jornalista Monica Bergamo, cuja coluna rivaliza com o
Painel de Vera Magalhães na divulgação de notícias exclusivas do mundo
político, deu seu troco na, digamos, concorrente interna dentro da Folha. Foi
ela quem noticiou a contratação de Cabral, cuja esposa tornou público o assédio
tucano a Meirelles.
Ainda no domingo 18, demonstrando a desestabilização
provocada pelo vazamento da informação sigilosa no Painel, o ex-prefeito
Gilberto Kassab, presidente do PSD, afirmou em entrevista ao 247 que não há
possibilidade de seu partido aderir ao PSDB e ceder o passe de Meirelles.
"Nosso compromisso com a presidente Dilma Rousseff é anterior e está
mantido", assegurou.
Nesta segunda-feira 19, quando as repercussões negativas para
os tucanos ainda reverberavam, a colunista Juliana Duialibi confirmou em seu
blog que Otavio Cabral será mesmo o novo chefe de comunicação de Aécio. O
jornalista passou incólume pela sucessão de notícias indigestas para o
presidenciável, enquanto o sonho do tucano em ter Meirelles como vice virou um
verdadeiro pesadelo, no qual até o ministro Guilherme Afif Domingos se viu no
direito de rechaçar publicamente a especulação, garantindo que Meirelles não
será vice de Aécio.
O presidenciável, após a demonstração de irritação de Serra
e o chega para lá de Kassab e Afif, afirmou que, se o PSD mudar de posição, o
interesse por Meirelles está mantido. O próprio Aécio sabe, no entanto, que a
manobra, no mínimo, sofrerá um grande atraso para ser completada. O segredo
tornado público atrapalhou seus planos.
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