Por: Fernando Brito
A nota publicada hoje por Ilimar Franco, em O Globo (e
destacada por Paulo Henrique Amorim), dando conta de que Ana Arruda, ministra
do TCU e mãe do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, mora
indevidamente há quase dois anos, embora seja em si algo inconcebível – não são
dois ou três meses, que poderiam justificar-se por uma dificuldade de mudar
para outro imóvel – traz à tona uma questão extremamente séria.
A mãe de um candidato a Presidente pode funcionar como
fiscal e juíza das contas da adversária do seu próprio filho?
Se ao ministro do
Tribunal de Contas se aplicar, por analogia, o que a lei prevê para o juiz, é
evidente que não.
O Artigo 134 do Código de Processo Civil diz que é defeso
(proibido) ao magistrado atuar “quando nele estiver postulando, como advogado
da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afim, em linha
reta; ou na linha colateral até o segundo grau”.
Pode-se argumentar que Eduardo Campos não é parte, embora
seja interessado (e muito) em qualquer decisão que lhe permita agredir,
politicamente, o governo Dilma.
Ainda que se possa aceitar este argumento, o artigo 135 vai
mais além, dizendo que se deve declarar suspeito aquele que juga quando for
“amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes” ou “alguma das partes
for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha
reta ou na colateral até o terceiro grau”.
Ora, a interpretação literal da lei não exime o julgador de
compreendê-la na extensão da vontade que a levou a ser editada.
É evidente que Eduardo Campos pode e, seguramente, vai tirar
proveito eleitoral das decisões do TCU conduzidas ou formuladas por sua mãe.
O mínimo ético que se poderia esperar é que Ana Arruda se licencia ou, ao menos, se declarasse
impedida nos assuntos de maior repercussão.
Mas não é o que está acontecendo.
Ela está cuidando do “filé mignon” da oposição, a Petrobras.
Inclusive inovando, com a decisão inédita de inquirir, no
próprio TCU, dirigentes da empresa pública.
Imaginem se fosse o contrário, uma tia de Dilma Rousseff julgando os processos de contas da Petrobras?
Pior, Ana Arruda será a relatora das contas da própria
Presidenta da República, a menos que se declare impedida.
Não é preciso dizer mais, não é?
Mas não precisa haver ética ou moralidade em quem faz
oposição.
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