Na tentativa de driblar a censura em 21 anos sob regime militar, autores, músicos, diretores, artistas visuais e atores criaram um dos períodos mais férteis da produção cultural brasileira
RIO - Fernanda Montenegro foi ameaçada de morte pelo
telefone. Do outro lado da linha, uma voz disse que ela levaria “um tiro
certeiro na testa”. Dias mais tarde, uma bala estraçalhou a janela do quarto
onde ela descansava. Na mesma época, José Celso Martinez Corrêa e seus
companheiros do Teatro Oficina mandaram a bela italiana que trabalhava na
bilheteria do grupo a Brasília para dormir com um censor e descolar a liberação
da peça “O rei da vela”. Roberto Farias apresentava “Pra frente, Brasil” no
Festival de Gramado quando soube que o filme havia sido censurado. Naquele dia,
ele fazia 50 anos, mas a revolta se sobrepôs à alegria de ter levado o prêmio
de melhor filme do festival. Tom Zé foi preso duas vezes e descobriu que, nas
prisões políticas da ditadura militar, cada detento tinha que pagar 70 mil
cruzeiros à polícia e dedurar um companheiro. Nas artes visuais, o regime não
foi mais brando. Antonio Manuel fugiu de Salvador depois que a Bienal da Bahia
foi fechada pelo Exército. Ele jamais recuperou o painel. Tempos depois,
novamente foi proibido de exibir uma obra, numa exposição no Rio. “Foi como se
me mutilassem”, diz.
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