Por Osvaldo Ventura
Escritor membro da Academia Feirense de Letras
Antes mesmo das denominadas “Manifestações
de Junho de 2013” ,
diversas comunidades, Brasil afora, insatisfeitas com o desempenho de seus
representantes para solucionar os mais variados problemas perante os poderes
públicos, já vinham demonstrando o que virou rotina hoje no Brasil. Nascido do
ventre da débil representatividade política e alimentado no seio das carências
populares, sem lideranças formais, contudo, unido em torno de um objetivo claro
e específico, o método de interrupção de vias públicas, rodovias, caminhos,
etc., revelou-se o mais eficaz para levar a voz do povo às autoridades
competentes e conseguir atendimento às suas reivindicações. Para mostrar
eficiência na empreitada, atravessam e queimam troncos de árvores em local
determinado, põem fogo em pneus, incineram pedaços de madeira e móveis
inservíveis, cavam valetas, enfim, haja criatividade para aperfeiçoar esse método
de pressão inadmissível aos olhos de quem sempre acreditou no mito do “brasileiro
cordial”.
A experiência, em função dos êxitos
obtidos, vem crescendo a cada dia, sem embargo dos prejuízos causados a quem
não tem qualquer responsabilidade pela desídia no atendimento a obras e
serviços reclamados pelo povo às autoridades constituídas.
Os legalistas de plantão (e como os há!)
logo se insurgiram contra as manifestações populares, imputando às massas
insatisfeitas o cerceamento da liberdade, por impedir a terceiros o sagrado
direito de ir e vir. A alegação, vista pela ótica de quem foi atingido, serve
como explicação, mas não prospera como justificativa, considerando-se o
fenômeno consequência do fraco poder da representatividade no atual processo político
brasileiro. Com efeito, o cidadão que se sente condignamente representado
diante de seus governantes, não necessita apelar para meios de pressão heterodoxos,
objetivando o acolhimento de suas demandas.
Aliás, a bem da verdade, não se trata da
falta ou da fragilidade das prerrogativas da representatividade nos indivíduos
“de per si”. Certamente, são sinais dos tempos rondando os Trópicos, desde
quando no Velho Continente há uma visível corrosão no tradicional conceito da
Democracia Representativa ou Indireta. Nos Países Nórdicos, por exemplo, o
fenômeno vem se projetando nitidamente como uma evolução histórica do estágio
da Democracia Representativa para a etapa dialética da Democracia Participativa
ou Direta. Se a Natureza abomina o vácuo, a política não faz por menos: o vazio
que começa a surgir com um provável declínio da Democracia Representativa será
ocupado, indubitavelmente, pelo advento da Democracia Participativa, com suas
óbvias vantagens político-filosóficas e suas delicadas formulações práticas.
De
todo modo, caberá aos líderes das massas, em seu desiderato histórico, encontrar
a melhor forma de organizar politicamente a sociedade humana.
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